Os desfiles das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro ocorrem nas noites de domingo e segunda, 23 e 24, na Avenida Marquês de Sapucaí
Textos e fotos: Daniela Uequed e Douglas Angeli – Rio de Janeiro
Carnaval também é lugar de política. Em ano eleitoral é o que prometem os enredos das principais escolas de samba do Rio de Janeiro, cujos desfiles iniciam no próximo domingo, 23. Críticas à corrupção e às injustiças sociais estão presentes nos sambas que serão cantados pelas 13 escolas do grupo principal.
O Cristo negro da Mangueira – O enredo proposto pelo carnavalesco Leandro Vieira para a Estação Primeira tem agitado o pré-carnaval deste ano. Grupos religiosos chegaram a propor um abaixo-assinado contra o enredo, que se propõe a falar de um Jesus negro nascido no morro da Mangueira. O tom de crítica social está presente nos versos do samba: “Não tem futuro sem partilha, nem messias de arma na mão”. Outra referência política está no samba-enredo da Portela, que apresenta a temática indígena: “Nossa aldeia é sem partido ou facção / Não tem bispo nem se curva a capitão”. Em ambos, referências ao presidente da República Jair Bolsonaro e, no segundo caso, ao prefeito do Rio de Janeiro, bispo Marcelo Crivella.
O rei do candomblé, o palhaço negro e Elza Soares – A escolha de alguns temas também indica uma postura política na exaltação da cultura afro-brasileira e na denúncia da intolerância religiosa e da discriminação racial. É o caso da Grande Rio, que apresenta uma homenagem ao babalorixá Joãozinho da Goméia, considerado o rei do candomblé. No samba, o recado: “Eu respeito seu amém, você respeita o meu axé”. O Salgueiro apresenta a história do artista Benjamin de Oliveira, palhaço negro que atuou entre o fim do século XIX e o início do século XX. E a Mocidade Independente de Padre Miguel homenageia a cantora Elza Soares, símbolo da resistência da mulher negra no Brasil.
Laranjas, becos e vielas – Tendo o humorista Marcelo Adnet como um dos autores de seu samba, a São Clemente vai apresentar o enredo “O conto do vigário”, sobre a corrupção e os trambiques na história do Brasil, incluindo uma crítica às fake-news. Em tom de crítica social, a União da Ilha do Governador apresentará o enredo “Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas, a sorte está lançada: Salve-se quem puder!”, tratando das mazelas sociais. A Unidos da Tijuca, cujo grande trunfo é o retorno do carnavalesco Paulo Barros, terá como tema a arquitetura e seu samba não ficou para trás: “Dignidade não é luxo nem favor”.
Outros enredos – As demais escolas também prometem grandes momentos na Marquês de Sapucaí: com a consagrada carnavalesca Rosa Magalhães, a Estácio de Sá apresentará a relação da humanidade com as pedras. A Viradouro fará uma homenagem às lavadeiras de Itapuã e a Paraíso do Tuiuti contará a história de São Sebastião, santo católico, e de Dom Sebastião, rei de Portugal. A Vila Isabel trará uma lenda indígena para exaltar a capital do país, Brasília. Encerrando a segunda noite de desfiles, a Beija-Flor de Nilópolis promoverá uma viagem pelas estradas e caminhos construídos por diferentes civilizações.
Ordem dos desfiles – Estácio de Sá, Viradouro, Mangueira, Tuiuti, Grande Rio, União da Ilha e Portela desfilam na noite de domingo no sambódromo da Marquês de Sapucaí. São Clemente, Vila Isabel, Salgueiro, Tijuca, Mocidade e Beija-Flor realizam os desfiles na segunda-feira. A grande campeã do carnaval carioca será conhecida na apuração da quarta-feira, 26.