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Tito Guarniere: “Na relação entre patrão e empregado, quem é o ‘rei’”?


Tito Guarniere
O CLIENTE. A CONCORRÊNCIA

São sempre bem-vindas abordagens originais, argumentos que subvertem os fundamentos comuns e sugerem uma nova leitura dos fenômenos que nos cercam.

O consultor empresarial Fábio Jacques, por exemplo, em artigo publicado no site do jornalista Políbio Braga, faz uma interessante ponderação sobre quem é o cliente na relação entre o patrão e o empregado.

É do senso comum dizer que “o cliente sempre tem razão”. As empresas, os fornecedores de bens e serviços seguem a filosofia de que o cliente é o ator principal, o destinatário do negócio, da transação comercial, a parte superior, a que deve ser satisfeita a todo o custo. “O cliente é o rei”, se diz de outra maneira.

Os clientes, de sua vez, nada têm a reclamar desse protagonismo, que é do interesse genuíno das boas empresas, e ao mesmo tempo, uma bandeira de propaganda e bem servir: certamente eles ganham quando o lema se faz real e verdadeiro.

Mas e quando se trata da relação de patrão e empregado, quem é o fornecedor, quem é o cliente? Quem é o “rei”? Jacques nota que, no caso, a situação se inverte. Não há a menor dúvida que o fornecedor (do serviço) é o empregado, e portanto cliente é a empresa. Mas no Brasil, o “rei”, os sujeitos de todos os direitos, de (quase) todas as decisões da Justiça do Trabalho, é o empregado. O empregador já não é o merecedor de todas as deferências, como os demais clientes, mas visto como “um tirano”, explora e maltrata o seu empregado. As obrigações, as responsabilidades pela execução pontual e qualificada dos serviços, neste caso, não pertencem ao âmbito dos fornecedores, e se transferem para o cliente.

Já Antony Sammeroff, autor de livros de economia, assinala que é comum pensar o capitalismo como um sistema darwinista de competição, em que os mais fracos sucumbem e ficam para trás, e em que só os mais fortes sobrevivem. A ele se opõe o socialismo, um sistema que tende à cooperação entre os homens.

Para ele, a concorrência não é um defeito, ao contrário: ela tende a melhorar a qualidade dos bens e serviços e a torná-los mais baratos. Mas não é isso que caracteriza o capitalismo.

O autor faz uma observação aguda: se a concorrência é um mal, um desvio, um defeito, então a primeira coisa que se precisa abolir é a democracia. A eleição dos governantes é um campo acirrado e feroz – e indispensável – de competição entre partidos, candidatos, grupos de pressão e corporações.

Para ele é ilusório achar que no sistema socialista não há concorrência. Como observa, no socialismo real acompetição entre os vários grupos se resolve pelo silenciamento dos oponentes, quando não pela sua eliminação física.

E mesmo no cotidiano dos regimes socialistas há uma competição permanente, incontornável, de quem ocupará os postos mais elevados, e de quem irá lavar os vasos sanitários e varrer as ruas.

Para o autor, o capitalismo é menos o sistema darwinista de competição, do que um sistema de trocas voluntárias, muito mais aberto e favorável aos seus agentes e atores, pela amplitude das ofertas, as quais não derivam de um único fornecedor de bens e serviços, o Estado.

titoguarniere@terra.com.br

 

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