Marcelo Grisa
Na última quarta-feira, Selma Teresa Dapper completou 80 anos. Com três décadas dedicadas ao auxílio aos mais necessitados, ela conta com a ajuda da comunidade e da família para continuar fazendo tudo que for possível. Afinal, este trabalho ajudou-a a redefinir a sua vida.
Selma sempre teve uma vida humilde. No começo da vida adulta, a Vó Selminha, como é conhecida, morava em São José do Cedro, em Santa Catarina. Lá, pode cuidar dos seus pais no final de suas vidas. “Eles não tinham aposentadoria, mas eu tinha eles. Todo mundo junto, e os meus filhos em volta. A gente era pobre ali, e eu já era antes. Mas a gente tinha a família”, aponta.
Depois disso, Selma veio com o então esposo e os filhos para Canoas. Foram uma das muitas famílias do Interior de SC que, após uma intensa seca, vieram trabalhar na Bianchini S/A naquela época. “Eu tinha medo do rio perto de casa. Lembro que tinha dias que chegava muito perto. Mas era o que tinha, viemos mesmo assim. Lá no Cedro não tinha serviço!”.
A partir daí, logo ela conheceria e se tornaria parte do trabalho de implantação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na cidade. “Era o Frei Valdovino. Ele juntou as mulheres e pediu para a gente começar a organizar um clube de mães, participar nas atividades. Demorou uns meses, mas ainda em 1987 a gente fez o primeiro evento”, relembra.
Um dia, ela recebeu a missão do religioso: realizar um rito em seu lugar, como chefe do grupo, já que ele estaria ausente. Selma disse somente: “Eu não sei nada disso. Mas eu vou aprender.” Assim, logo tinha melhorado sua leitura, que era soletrada, e conquistado desenvoltura. Para muito além dos grupos de mães, Selma também ajudaria muitos outros grupos ao longo dos anos. Pastoral da Criança, grupos voltados aos adolescentes e a Pastoral da Pessoa Idosa, apenas para citar alguns exemplos.
Vó Selminha acredita que o auxílio que deve ser prestado aos que menos tem e mais precisam não pode ser somente material. “Muita gente, hoje em dia, arrecada coisas, chega numa vila e dá. Não pode ser assim. Tem que ensinar o que fazer com o que se dá. Dar o peixe e ensinar a pescar”, aponta.
De 1994 a 96, Selma Dapper foi conselheira tutelar. A realidade da lida com a dura vivência de algumas crianças e adolescentes a fizeram repensar o trabalho. “Mas foi boa a experiência. Me marcou bastante. Conheci muita gente do meio da política. Até hoje me lembro do apoio do Jorge Uequed, que já sabia do meu trabalho com as comunidades”, relembra.
Todo este trabalho transformou também a vida de Selma. Segundo ela, a participação na comunidade católica permitiu a ela ver um mundo maior, e um papel maior na sua própria história. Há 20 anos, já com 60, decidiu separar-se. “Eu não tinha liberdade. Só comecei a viver depois disso. Estava deprimida, com 86 kg. Só tive coragem de fazer isso por conta do trabalho nas pastorais”.
Hoje, Vó Selminha tem a ajuda dos parentes. Ainda assim, e apesar da idade, continua com muita independência. “Eu sei que família é muito importante. Mas não é tudo. Não deixo de ir às reuniões da Pastoral. Meus filhos, meus netos… Se eu precisar eu fico um pouco aqui, mas eu vou lá participar. A gente tem que ter mais pessoas pra conversar, conviver, e continuar conhecendo mais e mais da vida.”