Capítulo 6 :
Por Marcelo Grisa
Dada a hora avançada na noite, Gabriela ficou ansiosa com a falta de respostas sobre o mendigo dos seus sonhos. Por mais ridícula que a expressão soasse, isso era o que aquele homem representava, depois de tantos anos.
Saiu de casa sozinha, aos pulos, sem conseguir se conter. Vitor, um ex-colega mais velho, um vigilante atento ao Facebook para distrair-se numa noite destas, sabia que Alex nunca se distanciava demais da Praça do Avião. Gabriela logo chegaria ao Centro usando seu Uninho velho, emprestado do velho pai, que mora agora em Imbé. A pressa não a deixou fazer mais que botar um casaco em cima do pijama, mais um gorro para economizar com o cabelo.
Vitor, mais alto e preocupado com eventuais meliantes, acompanhou Gabriela da Rua Cândido Machado, onde ela estacionou, até a Praça do Avião. Olhava para os lados seguidamente. Decidiu ficar na esquina, cuidando o seu posto sem tirar toda a atenção da amiga de vez. Sentia, na sua espinha, que tinha algo bem errado pra acontecer. Tranquilizou-se com uma mão encostada no coldre de sua pistola.
Gabriela observou a praça. Vários mendigos ali dormiam. Olhando do lado da BR-116, parecia um lugar deserto; do outro lado, entretanto, era possível ver as quase duas dezenas de pessoas. Estavam indo dormir, ajeitar seus parcos pertences ou buscar o entorpecimento, motivo de alguns estarem ali. Um deles faz menção de pedir um trocado para a moça de pijama quando ela puxa 10 reais do casaco e dá para ele.
– Onde esse cara está? – indaga Gabriela, com o cenho franzido.
O descabelado mendigo olhou para a imagem mostrada no celular. Gabriela, a moça generosa, merecia o melhor. Pediu para que o acompanhasse até uma parede.
– Tá’qui o-o-o tal.
– Mas é uma parede, cara.
– É Quiroga, dona. E eu vi ele entrando na parede. Nem bebi hoje.
Por alguns segundos, Gabriela olhou, incrédula, para as pedras por onde Alex teria entrado, mesmo sem nem saber que Alex era seu nome. Logo sentiu uma espécie de vibração… E o próprio Alex ressurgiu, atravessando as rochas como se elas fossem um pudim de pedras, agitando-se mas não rompendo com a passagem.
Sua expressão era fixa, imutável. Seus olhos estavam sem íris. Uma energia esbranquiçada, meio leitosa, envolvia o mendigo que por tanto tempo esteve no subconsciente de Gabriela, apenas.