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Harry Quadros completa 100 anos de dedicação à família e à sociedade

Marcelo Grisa

No próximo dia 15 de agosto, o médico Harry Quadros de Oliveira completa 100 anos de idade. Em um século, com seis filhos, sete netos e uma bisneta, o Dr. Harry tem uma trajetória marcada pela união da família, o espírito aventureiro, a preocupação com os pobres e com o futuro do país.

Pela Medicina e pela família

Uma festa familiar em sua homenagem está sendo preparada para o dia 15. Na data, estarão presentes seus filhos e netos, vindos dos Estados Unidos à Porto Alegre, onde reside. Isso porque sua esposa, Lydia Marchetti Arsego, com quem é casado há 64 anos, é norte-americana. “Ela era latina, como eu, porque é filha de italianos. Então a gente se deu bem desde o começo”, relembra.

Se conheceram em 1952, quando Harry fora para o Exterior pela oportunidade de fazer uma especialização em Pediatria, coisa que não havia nas faculdades médicas até então.Apesar de não falar inglês muito bem, ambos se apaixonaram, casaram-se, e Harry trouxe Lydia para o Brasil. Para o meio da colônia, em Seara, onde o médico já tinha reputação pela atuação social. Só cobrava de quem podia pagar: o restante pagava em víveres como porcos, galinhas e perus.

Alguns anos depois, com o objetivo de dar uma melhor educação para os filhos, Harry voltaria para Porto Alegre. Vendeu seu carro para adquirir uma casa e deixou uma vida promissora no Interior de SC pela família. Nesta época, o médico centenário primeiro clinicou em Canoas. Trabalhando junto de uma farmácia no bairro Mathias Velho nos anos 70, Harry conheceu nomes como o Dr. Vicente Palombini, falecido no último mês de maio. Continuou clinicando na Capital até 2002, aos 85 anos.

Alegrias e objetivos

Harry Quadros de Oliveira nunca trabalhou para ser rico. Segundo ele, teve várias oportunidades de conseguir dinheiro em outras áreas de atuação, tais como a importação de carros. “Eu também poderia ter feito como tantos fazem e cobrar de todo mundo. Teria muito mais dinheiro. Mas eu queria ajudar as pessoas. Me preocupava que morriam tantas crianças”, afirma o pediatra.

Muitos dos nascidos em Seara lembram com carinho de seu trabalho. “Toda quarta vinham 15, 20, até 25 colonos a cavalo para ver o “Doutor Ari”. Não tinha exames naquela época, então o maior recurso que ele tinha era ele mesmo”, relata, orgulhoso, Remi Fuelber, que nasceu pelas mãos do médico desbravador.Harry está gravado na história e seu nome é título de uma praça na cidade.

Os filhos e netos, além da matriarca Lydia, registraram suas experiências no livro “A Travessia de Harry – O Médico Centenário”. Nele, todos salientam as posições do patriarca. “Meu pai não foi um cara comerciante. Exerceu a Medicina pura e simples por amor à profissão e para fazer o bem ao próximo”, afirma Jacqueline Oliveira Schuck, quinta filha do casal. “Naquela época, já com 50 anos, ele ia para Canoas trabalhar. Recomeçar uma carreira de médico não era coisa simples. Ele teve que trabalhar também na base aérea e no consultório na Mathias Velho. Era um trabalhador, mas não era um pai ausente” relata o filho mais novo, Francisco Jorge Arsego de Oliveira.

Concebido para os parentes e amigos, a publicação familiar foi fruto da pesquisa do jornalista Victor Lourenço.Ele afirma que, em mais de seis meses de pesquisas, ir a Seara, em Santa Catarina, foi a parte mais interessante do processo. “A vida do Dr. Harry é um exemplo de dedicação às pessoas, e o retrato de um dos poucos médicos a fazerem essa travessia para regiões como aquela”, aponta.

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