Timoneiro

HISTÓRIAS CRUZADAS: A mulher assassinada era culpada ou inocente?

Capítulo 10 (Continuação):
por Sinara Dutra

O velho virou o copo de cerveja de uma vez. Bateu-o sobre a mesa. Passou a mão na testa, fechando forte os olhos. Aquele encontro o deixara tenso. Era um sentimento que não sabia definir. Uma emoção, uma excitação. Ele estava bem ali à sua frente. Em segundos, Lucas retorna do banheiro, e como num flash, lhe veio à mente a foto do menino com expressão conturbada, que havia achado em sua casa com outras fotografias antigas. Sentiu-se confuso e meio tonto. Tanto tempo os dois ali, tão próximos, se encarando através das janelas próximas. Olhares que se encontravam, e logo disfarçavam. Olhos com o mesmo sangue correndo nas veias. Suas histórias se cruzaram há muitos anos. E agora era o momento do acerto final, sabiam os dois.
– Sei que não me perdoou pelo que aconteceu com sua mãe. Disse o velho, sem perder tempo – agora era a hora –, depois de tomar mais um copo da cerveja de uma vez.
Lucas não respondeu, olhou para o lado e fez sinal, pedindo outra cerveja. Seus olhos estavam marejados. Ele olhou nos olhos do velho, uma lágrima ameaçou cair, quando ele a interrompeu. Sua expressão era de raiva e ressentimento. Era muito menino quando chegara em casa certa tarde, depois da escola, e viu sua mãe morta na cama. À época, não teve o apoio do pai, que lhe deixara com uma tia e viajou sem se despedir. Agora estavam ali, frente a frente.
– Você não faz ideia do que fez comigo. Por sua causa, sou um homem ruim. Faço mal pra outras pessoas. Disse Lucas.
– Eu sei, não deveria ter desaparecido. Disse o velho, meio alto, já meio bêbado.
– Não é disso que to falando. Eu sei tudo que aconteceu. Eu sei…. eu sei.
Quando terminou de falar, Lucas bateu com a mão fechada na mesa, chamando a atenção dos outros bêbados do bar. Antônio olhou em volta e quis amenizar, não queria chamar a atenção.
– Acalme-se rapazinho. Sei que você também não é nenhum santo e também sei que está encrencado. Baixe a bola. Posso lhe ajudar.
– Não quero a sua ajuda.
Lucas estava descontrolado. Pediu mais uma cerveja com a mão.
– Eu tenho sonhos terríveis. Lembranças terríveis.
O velho interrompeu.
– Você não sabe de nada. Não pode me culpar. Era apenas uma criança boba. Achava que sua mãe era um anjo, não é?
Lucas, ainda com os olhos marejados, olha para a rua e avista uma viatura da polícia, olha calmamente para o velho, e diz:
– Aqui não está bom pra nós. Pague a conta, lhe esperarei na frente da sua porta. Você vai me servir algo forte.
Levantou-se, pôs o capuz e saiu em silêncio. O velho suspirou, tomou o resto de cerveja que havia em seu copo e pediu a conta.

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