Capítulo 7 (Continuação):
por Simone Dutra
Antônio se dava conta ao decorrer dos fatos de que não queria colaborar com os policiais, de forma deliberada. Isto certamente se devia ao fato de que, com esta misteriosa e silenciosa investigação própria, tinha ele um propósito para seus dias. Algo dentro dele prometia um final feliz, a mulher voltando do supermercado, acompanhada de seu marido (agora ele já não parecia tanto com o menino das fotos, pois era nisso que ele queria acreditar).
– Os senhores gostariam de uma xícara de café?
Os homens aceitaram, era cedo da manhã e eles haviam madrugado para cumprir plantões acumulados.
Enquanto fervia a água, o mais alto deles perguntou para Antônio se aquela janela em frente não correspondia ao apartamento em que havia ocorrido o crime. Crime!?! Foi então que nosso senhor deu-se conta de que aquilo tudo não passava de conjeturas de uma mente senil. Era sério. Veio da cozinha e parou ao lado deles. – Sim, é ali. Respondeu ele, entregando-se, após mentir que não os conhecia e sequer sabia sobre seu sumiço.
É claro que os policiais não desconfiavam daquele senhorzinho, mas perceberam que ele ficara nervoso com aquilo tudo. Antes que ele perguntasse, relataram o caso, calmamente.
– Seu Antônio, sua vizinha aqui da frente foi encontrada morta há alguns dias e nós estamos buscando informações sobre qualquer pessoa desconhecida e/ou suspeita que possas ter visto.
Choque. Confusão. Tontura. Um dos guardas o amparou.
– Está se sentindo bem?
– Sim. Eu gostava muito deles. Digo, não os conhecia realmente. Mas os senhores sabem, não tenho muitas coisas para olhar aqui dentro e aquela mulher era tão linda. Ela fazia bolos aos finais de semana…
O homem baixo o interrompeu. – Senhor?! Acalme-se. Nós vamos fazer algumas perguntas, apenas responda como vier à sua cabeça, ok?
Concordando, ele sentou no sofá e aguardou o “interrogatório” tal qual um réu.
– Viu alguém entrar no apartamento sem ser o casal que ali residia?
– Não, mas… aquele homem…
– Ah sim, ele está nos ajudando muito. Aliás, tem sido bastante controlado, eu diria. Que homem forte!
Neste ínterim, um dos guardas aponta ao colega para a mesa da cozinha, em silêncio, para o quebra-cabeças de fotos que o velho havia montado em torno do caso.
– Seu Antônio, o senhor pode nos explicar o que significa isto?