Marcelo Grisa
Há cerca de 10 anos, a comunidade escolar da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Pequeno Polegar, no bairro Niterói, convive com o medo das chuvas. Cada vez que as nuvens escurecem, pais, professores e funcionários ficam apreensivos com a possibilidade de alagamentos no local e nas ruas adjacentes.
Entretanto, na última segunda-feira, 22 de maio, finalmente foram iniciadas as obras da Prefeitura que visam resolver pontos que atrapalham aulas e expõem alunos a contaminações. Isso graças à atuação da Comissão
Voluntária pela Educação, formada no mês de abril com o objetivo de criar soluções para a rede pública municipal.
A presidente do Conselho de Pais e Mestres da Pequeno Polegar, Michele Bartzen Acosta, declarou que os pais estão mais tranquilos com a tomada de atitude da Prefeitura de Canoas. “Nós fazemos tudo o que é possível para ajudar. Vamos continuar vigilantes.”
Situação e Solução
A construção, que tem 36 anos, fica abaixo do nível da rua. A fossa da Pequeno Polegar tem somente um palmo de profundidade e o descarte de dejetos ainda é por rede pluvial. O escoamento de chuva e esgoto ocorre pela mesma via. Qualquer chuva traz o risco de convivência dos pequenos alunos a fezes, insetos e demais agentes contaminantes. “Infelizmente já vi até uma larva em cima da barriga de um nenê no berçário”, admite a diretora, Natália Sudbrack Crippa.
Além dos 15 bebês que ficam na Pequeno Polegar, a escola recebe mais 73 alunos, totalizando 88 crianças. Todos eles, mais a equipe de funcionários, têm somente um único banheiro à disposição. Dali ainda vem um cheiro forte, diretamente do esgoto.
Este ponto é o que está sendo primeiramente atacado pela Secretaria Municipal de Educação. Através do Departamento de Obras da pasta, o encanamento da escola está sendo trocado. Os antigos e estreitos tubos de PVC serão substituídos por uma tubulação de concreto de 30cm de diâmetro, e parte da rede de esgoto no entorno sofrerá modificações até o final de julho, de acordo com. Em trabalho conjunto com a Secretaria Municipal de Obras, novas limpezas das bocas de lobo devem ser feitas nos próximos dias.
A Comissão Voluntária da Educação é composta por membros ligados a entidades privadas. O grupo reuniu-se com a diretora, professores e representantes da Secretaria Municipal da Educação no último dia 20 de abril. A Comissão abordou a Pequeno Polegar ao ser informada pela Secretaria dos casos mais graves envolvendo infraestrutura.
Mais que Esgoto
Outras partes da EMEI também sofrem interferências. O refeitório, que até 2015 tinha um buraco no chão, foi construído em cima de uma fossa. Lanches já precisaram ser transportados para salas apenas para evitar o intenso mau cheiro.
Há também problemas na caixa d’água e no forro, que é feito de material inflamável e apresenta rachaduras. “Já pedimos muitas e muitas vezes, só que a gente nunca foi ouvido de verdade”, reclama a professora Eliana Carbonera, que dirigiu a escola de 1985 a 1995.
A atual direção, contudo, acredita que, com o tempo, este problema também será solucionado. “O secretário da Educação já esteve aqui pelo menos três vezes no último mês. Fizemos reuniões e orçamentos. Tenho certeza que, com o tempo, tudo será resolvido”, afirma Natália.
Para a diretora, que assumiu o cargo apenas em março, é possível realocar as crianças para dois locais diferentes para a realização de reformas. Um grupo seria alocado na EMEI Beija-Flor, há cerca de um quilômetro de distância. O resto dos alunos iria para duas salas na subprefeitura Sudeste, localizada a apenas 800 metros da Pequeno Polegar. “Temos pais bastante ativos, que inclusive compraram equipamentos de ar condicionado que não podemos usar por limitação da rede elétrica. Eles, mais do que todos, querem soluções.”
Combinação Entre Partes
De acordo com a Secretaria Municipal da Educação, o trabalho constante de drenagem é requisitado pela creche e realizado com frequência desde o começo do ano. O secretário José de Jesus D’Ávila afirma são estudadas alternativas para realizar todas as obras no menor tempo possível e com efeitos mais duradouros.
A pasta também deve avaliar como falar com a Corsan sobre obras que viabilizem a rede de esgoto, impedindo que o problema retorne a longo prazo. “Um morador de uma rua próxima contou algo que me assustou. Ele disse que a última vez que foi feita uma limpeza que durou mais tempo sem alagamento foi na época do [falecido ex-prefeito] Lagranha. Precisamos resolver isso”, afirmou.
A Corsan, ao ser questionada, revelou desconhecer a demanda por não haver nenhum pedido da Pequeno Polegar em relação ao tema no sistema da empresa. Entretanto, revelou que seria possível fazer a ligação do esgoto cloacal, separando a saída de dejetos e o escoamento da água da chuva, da Av. Venâncio Aires para a escola. “É uma obra de três meses, após os devidos trâmites, afetando uma distância de 90 metros.”, admite Edson Specht, chefe da unidade de saneamento municipal.
Mais que Escola
Vizinha da Pequeno Polegar, a moradora Carmen Lúcia de Almeida acredita que o entupimento das bocas de lobo tenha piorado bastante a situação nos últimos anos. Os alagamentos ocorrem não somente no entorno da praça, mas em várias ruas paralelas. A água quase entra em sua casa apesar da altura do assoalho, e deixa marcas na parte de fora de sua varanda. “O pessoal vem e deixa lixo, faz sujeira e vai tudo para o bueiro. É um nojo.”
Enaíde Cristina de Fontana, que trabalha em uma loja de produtos de informática próxima da escola, convive com os alagamentos durante chuvas fortes na região. “Entra água e vêm ratos, baratas… Já tivemos que empilhar produtos para não molhar, e sempre tem alguém que se machuca na rua. É horrível”, relata.