Marcelo Grisa
Bondade, firmeza e competência
O padre Darley Kummer, Vigário Episcopal de Canoas, rezou a missa de sétimo dia de Hiltgardis. Para ele, a tenacidade, cultura e espírito livre que ela trazia com sua presença formaram parte da cultura canoense. “Vimos, nas celebrações, muitos líderes, da sociedade e da Igreja, que vieram prestar suas homenagens à profundidade da alma dessa mulher”, apontou.
A irmã Adelia Dannus, que conviveu com Hiltgardis por décadas, afirma que a amiga e colega pregava pelo constante uso prático do conhecimento aprendido em sala de aula. “Certa vez íamos à igreja e eu disse: ‘Vou cruzar a rua aqui, não vou fazer a cantoneira.’ Ela me perguntou se eu tinha estudado Matemática, ao ponto que eu disse sim. ‘Pois então, a soma dos catetos é igual à hipotenusa.’”
Outra religiosa que conviveu durante muito tempo com Hiltgardis é a Irmã Renete Cocco. Além de ressaltar a presença nos trabalhos da congregação até o final de sua vida seguindo os três pilares da filosofia Notre Damme (bondade, firmeza e competência), lembrou também que a religiosa tinha um intenso amor pela arte. “Ela entendia que quadros bonitos na parede, esculturas e outras obras na escola tinham o valor de educar para a arte”, explicou.
Independência
Para o vigário Darley, os jovens hoje não percebem como a liberdade e a vida dedicada à religião podem ser compatíveis, mas Maria Hiltgardis era a prova de que este era um de seus maiores valores.
A Irmã Adelia, que assim como ela foi diretora do Maria Auxiliadora, lembra que, mesmo já andando de cadeira de rodas em seus últimos anos de vida, a religiosa não deixava ser conduzida facilmente, preferindo ela mesma conduzir. “Ela costumava dizer para a gente: ‘Independência ou Morte!’ diante de qualquer tentativa. Era uma frase que ela carregava consigo”, lembrou.
Renete Cocco ainda lembra que o maior rompante de liberdade de Hiltgartis ocorreu ainda no começo de sua vida. No período do nazismo na Alemanha, percebeu que não poderia trabalhar pelas ideias de Deus naquele contexto. Foi embora de seu país para se dedicar à vida religiosa na Itália. Mesmo vinda de família rica, já tendo o interesse no ramo da Educação, resolveu que viria ao Brasil. “Para ela, a liberdade era poder se colocar nas situações que queria. Ser livre para se comprometer, para procurar o sentido de sua vida”, explicou Renete.
O Futuro e a Memória
A Irmã Maria Hiltgardis deixou um vasto material com suas memórias, de acordo com suas colegas. No entanto, o material precisa ser organizado e editado para virar de fato uma autobiografia. O trabalho deverá ser realizado pela Irmã Adelia Dannus. Porém, antes disso, ela irá liderar uma das iniciativas mais recentes das Irmãs Notre Damme no Brasil: a implantação de uma escola comunitária da rede no Peru.