Rogério Ceratti Filho*
Desde os meus nove anos de idade participo do movimento escoteiro. Por sinal, o maior movimento de jovens do mundo. Não quero entrar aqui no mérito de relatar como funciona o movimento, isso eu deixo para um próximo texto.
Mas quero compartilhar um momento que passei e do significado das ações que aprendemos nessa vivência.
Lembro que por volta dos meus quatorze anos de idade fui acampar e levei um pacote de balas, sendo mais exato, aquela “mentos”, de hortelã, se não me engano.
Acampar no verão (ou em dias quentes) não é fácil, ainda mais quando um jovem sem muita experiência de vida leva um pacote de balas escondido, com única intenção de não a compartilhar com ninguém.
Egoísmo? Naquela época eu não tinha essa sensação, mas a análise que faço hoje é de que era sim.
Parece-me até meio incoerente falar de boas ações e ausência de compartilhar um pacote de balas no mesmo texto, quando no movimento escoteiro pregamos exatamente o inverso, mas ao se tratar do ser humano notamos que de tudo ele é capaz.
Hoje, percebo que isso serviu de exemplo. Não sou egoísta, ao menos não me considero. Naquela época (a do acampamento) eu não tinha malandragem suficiente de condicionar no calor um pacote de balas, e o fiz escondido, no meio das roupas, dentro da barraca, num “calor do cão”. Escondido o suficiente para que nem eu mesmo lembrasse da sua existência.
Não dividir aquilo que, na minha cabeça, traria uma satisfação individual, muito maior do que a de compartilhar com amigos, não possui outro significado senão o egoísmo. Pois, o resultado final foi que não obtive nenhuma das duas, fui lembrar após o acampamento, já derretida, eu a perdera. Que bom. Serviu para refletir.
Nossas ações, muitas vezes involuntárias, mal pensadas, são assim, algumas egoístas, algumas altruístas, e não podemos escapar disto, apenas evoluir.
Jogue a primeira pedra quem nunca agiu sem pensar!
É difícil colocar em palavras a sensação do desânimo ao lembrar do episódio. Cabe a cada um como indivíduo aprender com as suas atitudes, evoluir como ser humano, como cidadão do mundo.
Aprender que as coisas mais simples às vezes são as mais significativas, não apenas para si, mas também para o próximo. Afinal, aprendemos e ensinamos com os próprios exemplos.
Nunca comentei com meus amigos que perdi aquele pacote de balas e também que eu não queria compartilhar com eles, iria me envergonhar diante deles. Mas, resolvi compartilhar agora, é bom fazer essa autocrítica. Para pensar melhor antes de agir, na consequência do ato e se o resultado dela pode prejudicar, não apenas aos demais, como a si mesmo.
*Advogado e Escotista