Comunidade
Ulysses Guimarães: o timoneiro da democracia completaria 100 anos
Contemporâneos recordam o legado do presidente da Assembleia Constituinte e maior opositor da ditadura militar
Por Marcelo Grisa
Ulysses Guimarães completaria, caso estivesse vivo, seu centenário nesta quinta-feira, dia 6 de outubro. O Timoneiro traz aqui sua homenagem a uma das figuras de maior importância na resistência à ditadura militar e na retomada da democracia.
Quem foi Ulysses
Nascido em Itirapina (SP) em 1916, formou-se em Direito na Universidade de São Paulo, a USP, em 1940. Desde a juventude já tinha participação política ativa, tendo sido integrante do centro acadêmico de sua graduação como bacharel e exercendo a vice-presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) na década de 1930. Foi também professor de Direito em diversas universidades paulistas.
Em 1947, tornou-se deputado estadual. Em 1951, elegeu-se para deputado federal, posto que ocuparia até o final de sua vida. Foi presidente da Câmara dos Deputados em duas ocasiões: de 1956 a 1958, nos anos que sucederam o suicídio de Getúlio Vargas e antecederam a ditadura militar; e entre 1985 e 1989, quando comandou a Assembleia Constituinte que formatou a Carta Magna brasileira em vigor até hoje.
Ulysses Guimarães faleceu em 1992, vítima de um acidente de helicóptero na Baía de Guanabara. Seu corpo nunca foi encontrado.
Os depoimentos dos canoenses
O ex-deputado Jorge Uequed conheceu Ulysses (ou “doutor Ulysses”, como era chamado em Brasília) em 1975, quando começou seu primeiro mandato. “Ele exercia uma influência tão grande entre os parlamentares antigos e os novos que era impossível uma conversa política sem a sua presença ou sem a sua anuência”, afirma.
O vereador Ivo Lech também lembra-se muito bem deste episódio da democracia brasileira.
Deputado à época da Constituinte e das Diretas Já, Lech ressalta a capacidade política do então líder do PMDB para lidar com 513 deputados e 81 senadores.
Ambos apontam um episódio-chave para demonstrar a tenacidade do deputado federal em sua defesa pela democracia. Em uma das caminhadas pelas Diretas Já, ocorrida em Salvador, em 20 de janeiro 1984, lembrada por Ivo Lech e Jorge Uequed, o clima era pesado. O então governador Antônio Carlos Magalhães, ligado à Arena, mandou a Polícia Militar literalmente soltar os cachorros em cima dos deputados e manifestantes. Muitos recuaram, mas não Ulysses, que bradava, segundo Lech, o seguinte: “Meus amigos! Eu sou candidato à Presidência da República e sou deputado federal. Na condição de cidadão brasileiro, eu exijo respeito!”.
Frases e virtudes
De acordo com ex-senador Pedro Simon, Ulysses Guimarães foi o líder máximo da resistência civil durante a ditadura militar. “Ele conseguiu, sem violência e com a organização do povo, reconquistar a democracia para todos”, aponta.
Ivo Lech acredita que a maior virtude do presidente da Constituinte era a de saber ouvir. “Ele convocava as pessoas, deixava todos falarem sobre o assunto que estávamos decidindo e então dava a sua posição como um resumo do que todos pensavam a respeito. E sempre puxava, de braços abertos, aquela frase: ‘Deputados, vamos votar! Vamos votar! Vamos votar!’” explica.
Para o vereador, sem Ulysses Guimarães, provavelmente o Brasil não teria uma Constituição Federal pronta no tempo estipulado. “Vendo que alguns temas poderiam trazer prejuízos se discutidos naquele momento, ele quem teve a ideia de estipular que alguns pontos seriam definidos por leis especiais mais tarde. Ele sabia que a política é um processo lento, mas que com esse tempo, poderiam ser tomadas decisões melhores para o país”, aponta.
Jorge Uequed destaca o direcionamento que o líder deu à Constituição, colocando primeiro as garantias individuais no documento, antes dos preceitos econômicos, como ocorria até então. “Faz muita falta. Pela sua inteligência e pela sua capacidade de construir o caminho democrático”, lamenta.
Por fim, Pedro Simon também lembra que, acima de tudo, Ulysses Guimarães é exemplo de renúncia pessoal e de dedicação à Pátria. “Ele deixou Sarney governar, mesmo tendo sido, pela ordem certa da época, ele mesmo a se tornar interino e chamar eleições diretas. Ele também renunciava a si próprio, de forma permanente, para convocar o povo a somar esforços pela democracia”, conclui.
Comunidade
Sorteio do Minha Casa, Minha Vida contempla 250 famílias. Confira lista.
Com transmissão ao vivo pela internet, a Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação, realizou nesta quarta-feira (16) o sorteio do programa Minha Casa, Minha Vida. No auditório Sady Schivitz, na sede da Prefeitura, foram contempladas 250 famílias, que irão morar nos Residenciais Pistoia e Santa Fé, no bairro Rio Branco. Também foram sorteados os candidatos suplentes.
Os dois complexos habitacionais estão em fase de construção, com previsão de entrega dos imóveis para setembro deste ano. Antes de ocupar o imóvel em definitivo, os contemplados passarão pelo processo de análise documental na Caixa Econômica Federal e pelo trabalho técnico-social da Prefeitura, que promove um processo de adaptação das famílias à nova moradia.
Confira aqui a lista dos sorteados
Ao todo, os Residenciais Pistoia e Santa Fé oferecem 500 unidades habitacionais. A outra metade das famílias que irá morar no local será reassentada, já que ocupavam anteriormente invasões que foram alvo de reintegração de posse pelo município.
Nesta quarta-feira, participaram do sorteio os cidadãos que realizaram o recadastramento. Enquadram-se nos critérios nacionais famílias residentes em áreas de risco, insalubres ou que tenham sido desabrigadas, comprovado por declaração do ente público; famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar, comprovado por autodeclaração; e famílias das quais faça(m) parte pessoa(s) com deficiência, comprovado com a apresentação de atestado médico.
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Assembleia de Deus comemora 80 anos de fundação em Canoas
A igreja Assembleia de Deus, de Canoas, comemora uma marco importante na cidade. O Jubileu de Carvalho da entidade ocorre nesta sexta-feira, 18 de agosto, e terá programação intensa de comemorações. O pastor Edegar Machado, líder da igreja no município há mais de 30 anos, recebeu a reportagem de O Timoneiro para falar acerca da programação das celebrações e sobre a atuação na cidade.
Tamanho
A importância da Assembleia de Deus, de Canoas, é contada também em números. A instituição, de acordo com Edegar, abrange atualmente 16 mil membros e conta com 88 igrejas na cidade. “A igreja se expandiu através do trabalho missionário e atua em diversos ponto do mundo”, conta Edegar.
Visão Social
O pastor destaca a visão social da instituição: “Não temos somente o trabalho espiritual, mas cuidamos do lado social. Eu considero isso como a outra mão da igreja. Nós temos o lado humano, que é alcançar as pessoas em suas necessidades”, comenta. O trabalho realizado abrange especialmente o cuidado de crianças. Edegar ainda citou projetos como escolas artesanais, que ajudam no desenvolvimento de trabalhos comunitários, além de postos de distribuição de sopa vinculados à Associação Beneficente Lar Esperança de Canoas , onde são atendidas cerca de mil crianças por semana.
Programação
A igreja promove cultos de celebração na sexta-feira, 19, até domingo, 20, no templo central da Assembleia de Deus, no bairro Mathias Velho. No domingo, a partir das 9 horas, ocorre concentração na praça Antonio Beló, na Rua Dr. Barcelos, onde será inaugurado um monumento em homenagem aos 80 anos da igreja. Após, são esperadas quatro mil pessoas para uma caminhada até o templo central da instituição, onde ocorrerá culto de graças.
História
Por determinação do pastorado da Igreja em Porto Alegre, o evangelista Amaro dos Santos foi designado, em 1937, para cuidar do trabalho da instituição em Canoas. Os primeiros cultos ocorreram no bairro Niterói. Ficou marcado na história da igreja um grande culto, realizado junto a uma figueira localizada nas proximidades da casa de André Lemos, em 18 de agosto de 1937. O local permanece com a figueira até hoje e, por conta disso, foi escolhido como local para a homenagem aos 80 anos da instituição.
Comunidade
Canoense tem 94 anos de futebol, mídia, direção e simplicidade
Marcelo Grisa
Hélio Ferreira da Silva nasceu em 1º de outubro de 1923. Filho de empregados na fazenda do estancieiro Victor Barreto, o motorista aposentado viu a história do século XX como poucos canoenses puderam. Hélio hoje mora com os sobrinhos Júlio Ragazzon e Raquel Araújo. E esta é sua história.
O futebol e a guerra
No começo de 1932, Hélio observava o nascimento do Sport Club Oriente, um dos mais tradicionais de Canoas. Alguns anos depois, jogou no time e virou craque. Como atacante central, marcava muitos gols.
A incipiente trajetória de Hélio Ferreira no futebol incluiu passagens pelo Canoense e até mesmo no Grêmio. Entretanto, uma grave lesão o afastou em definitivo dos gramados. Uma “pisada” deixou como lembrança um esmagamento logo acima do joelho. “Eu até poderia jogar, mas nunca mais fui. Deu muito medo”, explica.
“Às vezes eu ainda sonho com as mulheres da arquibancada me chamando. Parece que me vejo jogando de novo”, admite. Mas a vida ainda tinha reservado muito mais para o canoense de fala fácil e sorriso alegre.
Nesta época, o canoense já estava na Aeronáutica. Começava a Segunda Guerra Mundial, e todos no quartel ficavam de prontidão, recebendo apenas um dia de folga por semana. “Eu ficava em casa de farda. Se a sirene tocasse, tínhamos meia hora para nos apresentar”, lembra.
Hélio Ferreira da Silva, entretanto, nunca veria os fronts da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Há poucos dias de ser embarcado para o campo de batalha, chegava o mês setembro de 1945. A guerra acaba.
Hélio “Caldas” e Ernesto Geisel
Mesmo antes, durante e depois da guerra, a vivência nas Forças Armadas proporcionou o que seria uma de suas maiores paixões: os carros. Depois de sete anos, saiu da Aeronáutica e tornou-se motorista particular. Acabou por trabalhar 40 anos de sua vida para a Companhia Jornalística Caldas Júnior, dona do jornal Correio do Povo, como motorista da família de Breno Caldas. Por muito tempo, sua família morou na propriedade da família Caldas no bairro Belém Novo, em Porto Alegre.
Recentemente, Hélio visitou os netos de Breno, que o chamaram de “Hélio Caldas”, tamanha fora sua contribuição para a família.
Mas as mais histórias das quais Hélio mais se lembra são aquelas que envolviam os governos da ditadura militar. Primeiro, quando o golpe era dado, em 1º de abril de 1964, Breno Caldas pediu ao motorista que buscasse suas filhas na Rua Coronel Bordini, no bairro Auxiliadora, e as trouxesse ao Belém Novo. Recebeu uma arma, e deveria impedir, depois de todos em casa, que qualquer um entrasse na propriedade. Tendo que lidar com militares às portas do terreno, Hélio deixou-os entrar, mas cuidou cada movimento deles. Depois de uma medição no terreno – o que acontecia no local com frequência – eles foram embora sem maiores percalços.
Em outra oportunidade, em razão do aniversário de Breno Caldas, o presidente Ernesto Geisel, também gaúcho, veio até a fazenda para parabenizá-lo. Hélio teve que esconder um papagaio, que era ilegal, da vista do mandatário. Como um dos genros do patrão acabou por entregar a existência da ave, Geisel exigiu vê-la.
O que se sucedeu, entretanto, tranquilizou a todos. Ao ver o papagaio, que havia sido ensinado a falar muitos palavrões, o presidente desatou-se a rir mesmo sendo xingado pelo bicho.
Cuidado com o caminhão
Ao aposentar-se, Breno Caldas queria que Hélio continuasse trabalhando para ele, mesmo que não mais tendo carteira assinada por sua companhia. Não era bem sua ideia: eram os anos finais da Caldas Júnior antes de sua venda, e o motorista tinha o sonho de ter um caminhão e trabalhar com entregas.
Acabou recebendo a chave de um veículo à sua escolha entre 18 que estavam na garagem da propriedade, escondidos dos credores. “Breno puxou um bolo de chaves do bolso e disse: ‘Escolhe uma. Pode pegar.’ Mais tarde fui lá e escolhi um caminhão.”
Graças à rápida passagem da titularidade dos documentos, Hélio pode ficar com o veículo até poucos anos atrás, quando parou de dirigir. “Não quero me gabar, mas nunca causei nenhum acidente. Com a idade, preferi pedir para o Júlio aqui me levar nos lugares. Não é agora que eu vou ter um solavanco e acabar machucando alguém”, preocupa-se.
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