Comunidade
Agentes do Consultório na Rua se dizem vítimas de perseguição política
As fotos mostram salas minúsculas alagadas, com cadeiras velhas, armários vítimas da erosão da água que entra a cada chuva, medicamentos e suplementos expostos em caixas de papelão sobre os móveis e até no chão. Essa foi a forma com que os agentes do Consultório na Rua acharam para expor, através da rede social Facebook, a situação precária de trabalho.
Em 2014 o movimento Consultório na Rua foi tido como inovador pela imprensa por se tratar de uma parceria inédita entre a administração municipal, o Estado e a União, com equipe composta por uma psicóloga, uma assistente social, dois agentes sociais, uma enfermeira e uma técnica em enfermagem que, nas ruas de Canoas, atendiam as 86 pessoas em situação de rua até então cadastradas pela Prefeitura. Até abril de 2015, mais de 500 abordagens eram registradas.
Mas parece que o encanto com o projeto acabou. Agentes reclamam que foram vítimas de uma perseguição política por terem realizado uma manifestação, mesmo que previamente autorizada em convenção pela categoria, no início de julho deste ano. “O serviço de Consultório na Rua foi desmontado por perseguições políticas praticadas pelo prefeito Jairo Jorge, sua Fundação de Saúde (assediadora) e seus secretários”, acusou Veridiana Machado, uma das agentes ligadas ao Grupo Mãe de Deus, que foi desligada da iniciativa com o argumento de que haverá uma “reestruturação na equipe”.
Objetivo
Para os envolvidos, se trata de um serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) que tem como o principal objetivo estender àqueles que não possuem um local para morar. “Se ocupa do cuidado às pessoas que fazem uso problemático de álcool e de outras drogas, em liberdade, no território, a partir do respeito e do desenvolvimento de vínculo de confiança entre profissionais e pessoas atendidas, esta, a parte mais importante do processo de cuidado e de acompanhamento realizados”, aponta Machado.
Nas ruas, questões de saúde coletiva são tratadas de um modo geral, prevenindo a disseminação e facilitando o tratamento de tuberculose, acompanhando o tratamento e incidindo na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis como sífilis e HIV\AIDS, além de realizar diversos testes.
Sem viatura
Logo no início, relata, a equipe teve dificuldades para sair a campo e mapear o território. “Não conseguia obter os uniformes e nem o adesivo do carro, uma camioneta Doblô, recursos esses fundamentais para a identificação da equipe pelas pessoas atendidas e pela comunidade em geral, que, inclusive, é fator importante na relação até com a dinâmica do tráfico, inerente a todas as cidades atualmente”, revela. Mesmo assim, foram às ruas.
“Os trabalhadores só receberam uniformes e adesivos no carro, quando o prefeito Jairo Jorge resolveu inaugurar o serviço com mídia e propaganda. A camioneta Doblô, é um veículo pequeno, que sempre foi de tamanho insuficiente à equipe, que tinha que se dividir e deixar metade das pessoas quando era preciso transportar alguém para atendimento médico ou de outra ordem. Ao mesmo tempo, no estacionamento onde ficava a Doblô, existiam vários veículos como aqueles de SAMU, apodrecendo, abandonados na garagem. Um deles poderia ser adaptado para o Consultório na Rua, a fim de dar mais conforto às pessoas atendidas e qualificar o trabalho da equipe”, revela Veridiana.
Sem telefone
Segundo ela, a estrutura “nunca teve um telefone próprio. Os trabalhadores ou tinham que usar os seus próprios ou o da Unidade Básica de Saúde onde dividiam o espaço. Aliás, a única sala que o serviço de consultório na rua tem nessa UBS, é uma sala sem janelas, pequena, extremamente insalubre e que quando chove alaga”, denuncia.
Sem insumos
Conforme informaram os denunciantes, os insumos são precários. “Quando existem, pois, o serviço fica muito tempo sem o quite com bolachas, barras de cereais e água para oferecer às pessoas que, muitas vezes, ficam por diversas horas em jejum a fim de realizarem exames, ficam nessa sala úmida. Assim como, as medicações, os documentos, comprometendo os mesmos. Não existe uma continuidade no fornecimento desses itens pelo município”, revelam.
O que diz a Prefeitura
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que o projeto está de “acordo com a política federal. O que ocorreu, de forma gradual, foi a reestruturação da equipe, não sendo aceitável a alegação de perseguição política”. Segundo o órgão, atualmente, a secretaria da saúde “recebe R$ 27 mil ao mês da União, o que representa uma parte do custo do consultório. Os custos com essa equipe são superiores a R$ 40 mil mensais”.
Sobre o veículo, afirmou que as ambulâncias “não têm nada a ver com o Consultório de Rua, pois a equipe do Consultório nunca ficou sem veículo e as ambulâncias são usadas para outros propósitos”. Hoje, o município dispõe de oito ambulâncias.
Sobre a sede, respondeu que a “equipe utiliza a área física da UBS Santa Isabel, que oferece as condições necessárias para o exercício do trabalho. No entanto, em virtude da forte chuva forte do início do ano, ocorreram problemas no telhado e o computador foi danificado. Depois do conserto, não houve mais problemas”.
A secretaria diz que “não recebeu registro da falta de insumos para a equipe e cabe destacar que estes profissionais não coordenam a equipe e, portanto, não a representam”.
Comunidade
Sorteio do Minha Casa, Minha Vida contempla 250 famílias. Confira lista.
Com transmissão ao vivo pela internet, a Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação, realizou nesta quarta-feira (16) o sorteio do programa Minha Casa, Minha Vida. No auditório Sady Schivitz, na sede da Prefeitura, foram contempladas 250 famílias, que irão morar nos Residenciais Pistoia e Santa Fé, no bairro Rio Branco. Também foram sorteados os candidatos suplentes.
Os dois complexos habitacionais estão em fase de construção, com previsão de entrega dos imóveis para setembro deste ano. Antes de ocupar o imóvel em definitivo, os contemplados passarão pelo processo de análise documental na Caixa Econômica Federal e pelo trabalho técnico-social da Prefeitura, que promove um processo de adaptação das famílias à nova moradia.
Confira aqui a lista dos sorteados
Ao todo, os Residenciais Pistoia e Santa Fé oferecem 500 unidades habitacionais. A outra metade das famílias que irá morar no local será reassentada, já que ocupavam anteriormente invasões que foram alvo de reintegração de posse pelo município.
Nesta quarta-feira, participaram do sorteio os cidadãos que realizaram o recadastramento. Enquadram-se nos critérios nacionais famílias residentes em áreas de risco, insalubres ou que tenham sido desabrigadas, comprovado por declaração do ente público; famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar, comprovado por autodeclaração; e famílias das quais faça(m) parte pessoa(s) com deficiência, comprovado com a apresentação de atestado médico.
Comunidade
Assembleia de Deus comemora 80 anos de fundação em Canoas
A igreja Assembleia de Deus, de Canoas, comemora uma marco importante na cidade. O Jubileu de Carvalho da entidade ocorre nesta sexta-feira, 18 de agosto, e terá programação intensa de comemorações. O pastor Edegar Machado, líder da igreja no município há mais de 30 anos, recebeu a reportagem de O Timoneiro para falar acerca da programação das celebrações e sobre a atuação na cidade.
Tamanho
A importância da Assembleia de Deus, de Canoas, é contada também em números. A instituição, de acordo com Edegar, abrange atualmente 16 mil membros e conta com 88 igrejas na cidade. “A igreja se expandiu através do trabalho missionário e atua em diversos ponto do mundo”, conta Edegar.
Visão Social
O pastor destaca a visão social da instituição: “Não temos somente o trabalho espiritual, mas cuidamos do lado social. Eu considero isso como a outra mão da igreja. Nós temos o lado humano, que é alcançar as pessoas em suas necessidades”, comenta. O trabalho realizado abrange especialmente o cuidado de crianças. Edegar ainda citou projetos como escolas artesanais, que ajudam no desenvolvimento de trabalhos comunitários, além de postos de distribuição de sopa vinculados à Associação Beneficente Lar Esperança de Canoas , onde são atendidas cerca de mil crianças por semana.
Programação
A igreja promove cultos de celebração na sexta-feira, 19, até domingo, 20, no templo central da Assembleia de Deus, no bairro Mathias Velho. No domingo, a partir das 9 horas, ocorre concentração na praça Antonio Beló, na Rua Dr. Barcelos, onde será inaugurado um monumento em homenagem aos 80 anos da igreja. Após, são esperadas quatro mil pessoas para uma caminhada até o templo central da instituição, onde ocorrerá culto de graças.
História
Por determinação do pastorado da Igreja em Porto Alegre, o evangelista Amaro dos Santos foi designado, em 1937, para cuidar do trabalho da instituição em Canoas. Os primeiros cultos ocorreram no bairro Niterói. Ficou marcado na história da igreja um grande culto, realizado junto a uma figueira localizada nas proximidades da casa de André Lemos, em 18 de agosto de 1937. O local permanece com a figueira até hoje e, por conta disso, foi escolhido como local para a homenagem aos 80 anos da instituição.
Comunidade
Canoense tem 94 anos de futebol, mídia, direção e simplicidade
Marcelo Grisa
Hélio Ferreira da Silva nasceu em 1º de outubro de 1923. Filho de empregados na fazenda do estancieiro Victor Barreto, o motorista aposentado viu a história do século XX como poucos canoenses puderam. Hélio hoje mora com os sobrinhos Júlio Ragazzon e Raquel Araújo. E esta é sua história.
O futebol e a guerra
No começo de 1932, Hélio observava o nascimento do Sport Club Oriente, um dos mais tradicionais de Canoas. Alguns anos depois, jogou no time e virou craque. Como atacante central, marcava muitos gols.
A incipiente trajetória de Hélio Ferreira no futebol incluiu passagens pelo Canoense e até mesmo no Grêmio. Entretanto, uma grave lesão o afastou em definitivo dos gramados. Uma “pisada” deixou como lembrança um esmagamento logo acima do joelho. “Eu até poderia jogar, mas nunca mais fui. Deu muito medo”, explica.
“Às vezes eu ainda sonho com as mulheres da arquibancada me chamando. Parece que me vejo jogando de novo”, admite. Mas a vida ainda tinha reservado muito mais para o canoense de fala fácil e sorriso alegre.
Nesta época, o canoense já estava na Aeronáutica. Começava a Segunda Guerra Mundial, e todos no quartel ficavam de prontidão, recebendo apenas um dia de folga por semana. “Eu ficava em casa de farda. Se a sirene tocasse, tínhamos meia hora para nos apresentar”, lembra.
Hélio Ferreira da Silva, entretanto, nunca veria os fronts da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Há poucos dias de ser embarcado para o campo de batalha, chegava o mês setembro de 1945. A guerra acaba.
Hélio “Caldas” e Ernesto Geisel
Mesmo antes, durante e depois da guerra, a vivência nas Forças Armadas proporcionou o que seria uma de suas maiores paixões: os carros. Depois de sete anos, saiu da Aeronáutica e tornou-se motorista particular. Acabou por trabalhar 40 anos de sua vida para a Companhia Jornalística Caldas Júnior, dona do jornal Correio do Povo, como motorista da família de Breno Caldas. Por muito tempo, sua família morou na propriedade da família Caldas no bairro Belém Novo, em Porto Alegre.
Recentemente, Hélio visitou os netos de Breno, que o chamaram de “Hélio Caldas”, tamanha fora sua contribuição para a família.
Mas as mais histórias das quais Hélio mais se lembra são aquelas que envolviam os governos da ditadura militar. Primeiro, quando o golpe era dado, em 1º de abril de 1964, Breno Caldas pediu ao motorista que buscasse suas filhas na Rua Coronel Bordini, no bairro Auxiliadora, e as trouxesse ao Belém Novo. Recebeu uma arma, e deveria impedir, depois de todos em casa, que qualquer um entrasse na propriedade. Tendo que lidar com militares às portas do terreno, Hélio deixou-os entrar, mas cuidou cada movimento deles. Depois de uma medição no terreno – o que acontecia no local com frequência – eles foram embora sem maiores percalços.
Em outra oportunidade, em razão do aniversário de Breno Caldas, o presidente Ernesto Geisel, também gaúcho, veio até a fazenda para parabenizá-lo. Hélio teve que esconder um papagaio, que era ilegal, da vista do mandatário. Como um dos genros do patrão acabou por entregar a existência da ave, Geisel exigiu vê-la.
O que se sucedeu, entretanto, tranquilizou a todos. Ao ver o papagaio, que havia sido ensinado a falar muitos palavrões, o presidente desatou-se a rir mesmo sendo xingado pelo bicho.
Cuidado com o caminhão
Ao aposentar-se, Breno Caldas queria que Hélio continuasse trabalhando para ele, mesmo que não mais tendo carteira assinada por sua companhia. Não era bem sua ideia: eram os anos finais da Caldas Júnior antes de sua venda, e o motorista tinha o sonho de ter um caminhão e trabalhar com entregas.
Acabou recebendo a chave de um veículo à sua escolha entre 18 que estavam na garagem da propriedade, escondidos dos credores. “Breno puxou um bolo de chaves do bolso e disse: ‘Escolhe uma. Pode pegar.’ Mais tarde fui lá e escolhi um caminhão.”
Graças à rápida passagem da titularidade dos documentos, Hélio pode ficar com o veículo até poucos anos atrás, quando parou de dirigir. “Não quero me gabar, mas nunca causei nenhum acidente. Com a idade, preferi pedir para o Júlio aqui me levar nos lugares. Não é agora que eu vou ter um solavanco e acabar machucando alguém”, preocupa-se.
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