Comunidade
OT 50 anos – Há cinco décadas acompanhando os problemas das vilas
Por Émerson Vasconcelos
Atualmente, cerca de 70 mil pessoas ainda estão irregulares em Canoas, segundo dados do Instituto Trata Brasil. O Timoneiro sempre acompanhou o problema de perto e nos últimos anos vem cobrando sistemática do poder público o cumprimento de suas promessas aos moradores das dezenas de vilas que ainda existem na cidade. No entanto, apesar de alguns movimentos positivos, quando foi do interesse da gestão municipal, os avanços foram poucos nestes últimos 50 anos.
Décadas de promessas
Um caso que ilustra muito bem esta longevidade do problema, é a situação da Vila Araçá, localizada entre o Centro e o Mato Grande. Chegamos ao segundo semestre de 2016 e não há sequer uma data prometida para que os moradores sejam transferidos para outro local ou mesmo para que a vila possa ser regularizada. Só que basta olhar o arquivo histórico de O Timoneiro para ver que estas pessoas ouvem promessas e têm prazos prometidos, assim como descumpridos, há pelo menos 30 anos. A máxima de que canos enterrados não trazem votos é dolorosa de se admitir, mas como não evocá-la quando a cidade tem tantas pessoas vivendo no meio do esgoto a céu aberto e se empenha mais em captar milionárias verbas federais para a construção de um aeromóvel?
E a Vila Araçá é só um exemplo. Vários locais do bairro Guajuviras, por exemplo, continuam abandonados à própria sorte. Não é raro encontrar áreas em que existem canos enterrados em gestões passadas da Prefeitura, mas que não se ligam uns aos outros, e serviram apenas para que algum candidato a vereador ganhasse votos. Registros físicos de promessas que não se concretizaram e provas de que o saneamento básico nunca foi uma real prioridade dos governos canoenses.
Falsas esperanças
Embora não se trate apenas do esgoto a céu aberto, mas de uma total falta estrutura básica, que passa por saúde, segurança e educação, o saneamento é o ponto que mais castiga os moradores das chamadas vilas e até mesmo de áreas não consideradas de risco. Durante mais de quinze anos O Timoneiro noticiou prazos divulgados pelas prefeituras para a canalização completa das valas da cidade. Atualmente focamos em noticiar os problemas que estas valas ainda abertas causam à população. As datas prometidas pela Prefeitura são divulgadas nestas reportagens, mas sempre tratadas com desconfiança, dado o histórico de descumprimentos por parte do poder público. Tratar promessa como verdade, levando em consideração este retrospecto, seria gerar falsas expectativas nos leitores, especialmente naqueles que vivem o problema.
Quando o governo precisa
A transferência de famílias das vilas para moradias definitivas só foi feita, durante este 50 anos que OT pode acompanhar, em momentos nos quais era importante, para o interesse do governo, fosse ele municipal ou federal, que isso ocorresse. Com a recente necessidade de construção da BR-448, foi necessário tirar famílias do caminho, para que a estrada fosse aberta. A evacuação precisava ser feita em caráter urgente e as famílias das Vilas Dique foram levadas para um local chamado Vila de Passagem. No momento em que saíram do caminho, deixaram de ser prioridade. Algumas levaram mais de três anos para serem levadas a moradias definitivas e outras ainda estão na Vila de Passagem, que já se deteriorou tanto que pouco difere das casas que estas famílias ocupavam sobre os diques.
Luta que segue
Na semana anterior à publicação deste especial de 50 anos, a Prefeitura confirmou que 140 famílias ainda aguardam por casas definitivas na Vila de Passagem. Considerando que esta vila não entra nos dados do Insituto Trata Brasil, já que a área não é considerada de risco, podemos afirmar, com certeza, que apesar da luta constante de OT, durante 50 anos, pelo respeito às famílias que vivem em condições indignas na cidade, o número de pessoas sem uma moradia digna supera 70 mil. Nosso compromisso é seguir fiscalizando o poder público e cobrando soluções enquanto famílias continuarem sem receber atenção básica dos governos. Estamos preparados para resistir nesta luta por mais 50 anos se for necessário, mas nos comprometemos a trabalhar com força para que o problema se resolva muito antes disso.
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Comunidade
Sorteio do Minha Casa, Minha Vida contempla 250 famílias. Confira lista.
Com transmissão ao vivo pela internet, a Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação, realizou nesta quarta-feira (16) o sorteio do programa Minha Casa, Minha Vida. No auditório Sady Schivitz, na sede da Prefeitura, foram contempladas 250 famílias, que irão morar nos Residenciais Pistoia e Santa Fé, no bairro Rio Branco. Também foram sorteados os candidatos suplentes.
Os dois complexos habitacionais estão em fase de construção, com previsão de entrega dos imóveis para setembro deste ano. Antes de ocupar o imóvel em definitivo, os contemplados passarão pelo processo de análise documental na Caixa Econômica Federal e pelo trabalho técnico-social da Prefeitura, que promove um processo de adaptação das famílias à nova moradia.
Confira aqui a lista dos sorteados
Ao todo, os Residenciais Pistoia e Santa Fé oferecem 500 unidades habitacionais. A outra metade das famílias que irá morar no local será reassentada, já que ocupavam anteriormente invasões que foram alvo de reintegração de posse pelo município.
Nesta quarta-feira, participaram do sorteio os cidadãos que realizaram o recadastramento. Enquadram-se nos critérios nacionais famílias residentes em áreas de risco, insalubres ou que tenham sido desabrigadas, comprovado por declaração do ente público; famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar, comprovado por autodeclaração; e famílias das quais faça(m) parte pessoa(s) com deficiência, comprovado com a apresentação de atestado médico.
Comunidade
Assembleia de Deus comemora 80 anos de fundação em Canoas
A igreja Assembleia de Deus, de Canoas, comemora uma marco importante na cidade. O Jubileu de Carvalho da entidade ocorre nesta sexta-feira, 18 de agosto, e terá programação intensa de comemorações. O pastor Edegar Machado, líder da igreja no município há mais de 30 anos, recebeu a reportagem de O Timoneiro para falar acerca da programação das celebrações e sobre a atuação na cidade.
Tamanho
A importância da Assembleia de Deus, de Canoas, é contada também em números. A instituição, de acordo com Edegar, abrange atualmente 16 mil membros e conta com 88 igrejas na cidade. “A igreja se expandiu através do trabalho missionário e atua em diversos ponto do mundo”, conta Edegar.
Visão Social
O pastor destaca a visão social da instituição: “Não temos somente o trabalho espiritual, mas cuidamos do lado social. Eu considero isso como a outra mão da igreja. Nós temos o lado humano, que é alcançar as pessoas em suas necessidades”, comenta. O trabalho realizado abrange especialmente o cuidado de crianças. Edegar ainda citou projetos como escolas artesanais, que ajudam no desenvolvimento de trabalhos comunitários, além de postos de distribuição de sopa vinculados à Associação Beneficente Lar Esperança de Canoas , onde são atendidas cerca de mil crianças por semana.
Programação
A igreja promove cultos de celebração na sexta-feira, 19, até domingo, 20, no templo central da Assembleia de Deus, no bairro Mathias Velho. No domingo, a partir das 9 horas, ocorre concentração na praça Antonio Beló, na Rua Dr. Barcelos, onde será inaugurado um monumento em homenagem aos 80 anos da igreja. Após, são esperadas quatro mil pessoas para uma caminhada até o templo central da instituição, onde ocorrerá culto de graças.
História
Por determinação do pastorado da Igreja em Porto Alegre, o evangelista Amaro dos Santos foi designado, em 1937, para cuidar do trabalho da instituição em Canoas. Os primeiros cultos ocorreram no bairro Niterói. Ficou marcado na história da igreja um grande culto, realizado junto a uma figueira localizada nas proximidades da casa de André Lemos, em 18 de agosto de 1937. O local permanece com a figueira até hoje e, por conta disso, foi escolhido como local para a homenagem aos 80 anos da instituição.
Comunidade
Canoense tem 94 anos de futebol, mídia, direção e simplicidade
Marcelo Grisa
Hélio Ferreira da Silva nasceu em 1º de outubro de 1923. Filho de empregados na fazenda do estancieiro Victor Barreto, o motorista aposentado viu a história do século XX como poucos canoenses puderam. Hélio hoje mora com os sobrinhos Júlio Ragazzon e Raquel Araújo. E esta é sua história.
O futebol e a guerra
No começo de 1932, Hélio observava o nascimento do Sport Club Oriente, um dos mais tradicionais de Canoas. Alguns anos depois, jogou no time e virou craque. Como atacante central, marcava muitos gols.
A incipiente trajetória de Hélio Ferreira no futebol incluiu passagens pelo Canoense e até mesmo no Grêmio. Entretanto, uma grave lesão o afastou em definitivo dos gramados. Uma “pisada” deixou como lembrança um esmagamento logo acima do joelho. “Eu até poderia jogar, mas nunca mais fui. Deu muito medo”, explica.
“Às vezes eu ainda sonho com as mulheres da arquibancada me chamando. Parece que me vejo jogando de novo”, admite. Mas a vida ainda tinha reservado muito mais para o canoense de fala fácil e sorriso alegre.
Nesta época, o canoense já estava na Aeronáutica. Começava a Segunda Guerra Mundial, e todos no quartel ficavam de prontidão, recebendo apenas um dia de folga por semana. “Eu ficava em casa de farda. Se a sirene tocasse, tínhamos meia hora para nos apresentar”, lembra.
Hélio Ferreira da Silva, entretanto, nunca veria os fronts da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Há poucos dias de ser embarcado para o campo de batalha, chegava o mês setembro de 1945. A guerra acaba.
Hélio “Caldas” e Ernesto Geisel
Mesmo antes, durante e depois da guerra, a vivência nas Forças Armadas proporcionou o que seria uma de suas maiores paixões: os carros. Depois de sete anos, saiu da Aeronáutica e tornou-se motorista particular. Acabou por trabalhar 40 anos de sua vida para a Companhia Jornalística Caldas Júnior, dona do jornal Correio do Povo, como motorista da família de Breno Caldas. Por muito tempo, sua família morou na propriedade da família Caldas no bairro Belém Novo, em Porto Alegre.
Recentemente, Hélio visitou os netos de Breno, que o chamaram de “Hélio Caldas”, tamanha fora sua contribuição para a família.
Mas as mais histórias das quais Hélio mais se lembra são aquelas que envolviam os governos da ditadura militar. Primeiro, quando o golpe era dado, em 1º de abril de 1964, Breno Caldas pediu ao motorista que buscasse suas filhas na Rua Coronel Bordini, no bairro Auxiliadora, e as trouxesse ao Belém Novo. Recebeu uma arma, e deveria impedir, depois de todos em casa, que qualquer um entrasse na propriedade. Tendo que lidar com militares às portas do terreno, Hélio deixou-os entrar, mas cuidou cada movimento deles. Depois de uma medição no terreno – o que acontecia no local com frequência – eles foram embora sem maiores percalços.
Em outra oportunidade, em razão do aniversário de Breno Caldas, o presidente Ernesto Geisel, também gaúcho, veio até a fazenda para parabenizá-lo. Hélio teve que esconder um papagaio, que era ilegal, da vista do mandatário. Como um dos genros do patrão acabou por entregar a existência da ave, Geisel exigiu vê-la.
O que se sucedeu, entretanto, tranquilizou a todos. Ao ver o papagaio, que havia sido ensinado a falar muitos palavrões, o presidente desatou-se a rir mesmo sendo xingado pelo bicho.
Cuidado com o caminhão
Ao aposentar-se, Breno Caldas queria que Hélio continuasse trabalhando para ele, mesmo que não mais tendo carteira assinada por sua companhia. Não era bem sua ideia: eram os anos finais da Caldas Júnior antes de sua venda, e o motorista tinha o sonho de ter um caminhão e trabalhar com entregas.
Acabou recebendo a chave de um veículo à sua escolha entre 18 que estavam na garagem da propriedade, escondidos dos credores. “Breno puxou um bolo de chaves do bolso e disse: ‘Escolhe uma. Pode pegar.’ Mais tarde fui lá e escolhi um caminhão.”
Graças à rápida passagem da titularidade dos documentos, Hélio pode ficar com o veículo até poucos anos atrás, quando parou de dirigir. “Não quero me gabar, mas nunca causei nenhum acidente. Com a idade, preferi pedir para o Júlio aqui me levar nos lugares. Não é agora que eu vou ter um solavanco e acabar machucando alguém”, preocupa-se.
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