Paulo Sérgio é o candidato do PSOL à Prefeitura. Foto: Vanderlei Dutra/OT.

Na terça-feira, 10 de maio, a série de entrevistas com os pré-candidatos à Prefeitura de Canoas nas eleições de 2016 teve sequência com Paulo Sérgio, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), no programa OT Entrevista, comandado pelo jornalista Vanderlei Dutra.

Sérgio concorreu a Prefeito por duas vezes, 2008 e 2012, sempre pelo PSOL, e pretende encarar o pleito pela terceira vez. Em sua entrevista ficou claro que a proposição principal do candidato é a de participação popular. “Fazer com que as pessoas se sintam parte atuante do poder público e decidam realmente onde é a prioridade. Em cada quadrante da cidade existem prioridades diferentes, não são as mesmas”, aposta.

Crítica ao governo

Crítico do governo Jairo Jorge, o qual considera de centro-direita e não de esquerda, o morador do bairro Niterói criticou alguns dos projetos de participação popular do prefeito em exercício, embora os considere como avanços. “Teve alguns avanços que a gente pode colocar como o Orçamento Participativo. Mas isso não é herança do governo Jairo Jorge, isso já vem do governo do PT bem mais antigo que, comparando o governo Olívio Dutra com o governo Jairo Jorge, a gente consegue ver, primeiro pelo lado das alianças e depois pelas diferenças”, apontou.

Para ele, o governo Jairo Jorge não é um governo de esquerda. “Tem setores mais a direita, conservadores. Um exemplo é o próprio PRB (Partido Republicano Brasileiro) que é um setor conservador ligado a igreja e é um dos setores que votaram para a retirada da presidente Dilma”, opina. Para ele, o petista “nunca veio com a intenção de fazer a ruptura com os setores que sempre estiveram a frente da cidade, tanto no controle da questão econômica, dos grupos econômicos, da única empresa de ônibus no município, com um monopólio”, alfineta a concorrente.

Sobre o projeto Prefeito na Estação, implantado por Jairo, tratou como um erro. “Demonstra algo muito personalizado. O prefeito que resolve os problemas. O prefeito é uma pessoa que está acima da gestão da cidade justamente para empoderar as pessoas para resolver os problemas. Não é ele quem resolve o problema. Quem resolve o problema é o trabalhador da saúde que atende o doente, é o trabalhador da educação valorizado que atende os problemas, fica muito focado em cima da imagem do prefeito e a gente quer fazer com que a cidade participe e tome as decisões que são o melhor para o conjunto da maioria da população”, sugere. “O governo tem um verniz social, mas é um governo que precariza, privatiza, que tem todas as características de um governo de direita”, critica.

Assista a entrevista na íntegra:

Movimento LGBT

Questionado pela audiência sobre a pauta das Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis (LGBT), respondeu que o partido tem nomes tradicionais do tema como o deputado federal Jean Wyllys. “Esse setor, eles que pautam as políticas a serem adotadas aos LGBTs. Isso é o mesmo que estava falando em relação ao Orçamento Participativo. As pessoas que vivem o problema no cotidiano, no dia a dia, são as pessoas que vão estar à frente, que vão discutir, que vão tomar decisões em relação a isso”, enfatizou salientando que isso está no plano de governo desde quando concorreu em 2008.

Movimento Negro

Se auto-intitulando o primeiro candidato a prefeito negro de Canoas, Paulo Sérgio fala em incoerência. “Quando a gente lançou a primeira candidatura, nós sempre tivemos um espaço de defesa para a população LGBT e também sempre tivemos espaço para a questão do negro. Até porque seria incoerente. Eu fui o primeiro candidato negro na história de Canoas e seria incoerente que dentro do nosso plano de governo não houve uma defesa dessa classe, dessa população que já foi tanto tempo explorada e ainda não houve uma reparação”, diz.

Descolamentodo PT

Para o pré-candidato a ligação que se tenta dar do PSOL com o PT é descabida. Em sem entender, a construção da sigla não começou dentro do PT, mas muito antes. “Os militantes do PSOL vem com uma referência muito anterior a isso. Nós viemos com uma referência ao socialismo democrático, ao socialismo libertário. Uma referência ao marxismo em alguns setores do PSOL”, argumenta complementando que o Partido dos Trabalhadores “privatiza a educação, terceiriza a educação, terceiriza escola. Isso não são propostas socialistas, são propostas capitalistas”, disse.

Transporte público

Embora não acredite na realização do Aeromóvel por entender que os cortes atingem a todos, trouxe uma proposta diferente da licitação nos ônibus que realizam o transporte público urbano coletivo. “A gente defende que Canoas tenha uma empresa pública de transporte público. Outra questão importante é a moratória. Nós defendemos uma moratória de seis meses, ou seja, começa o ano, seis meses nós fazemos uma avaliação não só na tabela de contas porque a tabela de contas ela te demonstra contabilmente, mas a gente quer uma auditoria realmente dos processos. Ver compra de veículos, se houve superfaturamento, se não houve. Ver processos de custo, de compras, esse é o mecanismo para a gente fiscalizar realmente o lucro das empresas de transporte”, propõe.

Saúde pública

“Nós entendemos que a saúde tem que ser pública e os trabalhadores têm de ser atendidos por trabalhadores concursados. O serviço público tem um perfil diferente do serviço privado. Ele tem peculiaridades diferentes do serviço privado. Então nós não achamos plausível alguém ganhar dinheiro em cima da doença de alguém. Por isso, nós achamos que é um erro a privatização da saúde porque alguém está ganhando em cima daquele trabalhador que está atendendo o usuário do serviço. Somos totalmente contrários a isso. Nós achamos que nós podemos reorganizar”, critica a postura hoje adotada no município.

Educação

Conforme disse na entrevista, considera a educação uma ferramenta transformadora. “Os trabalhadores da educação são guerreiros, inclusive os da saúde. Ele tem o papel de transformar a sociedade. De fazer com que aquele menino que está lá naquela vila, naquele local onde não tem acesso aos bens de consumo de uma família mais abastada, dá uma luz para ele com que consiga vencer essas dificuldade. Então eu respeito muito estes trabalhadores e, com certeza podem participar do nosso governo e ajudar a construir uma outra Canoas, que não seja esta”, convidou.

Impeachment

Paulo Sérgio se manifestou contrário ao impeachment de Dilma Rousseff (PT). Para ele se trata de um “golpe palaciano, um golpe político-parlamentar ou um golpe entre os amigos”. Ele adiantou, inclusive, que a sigla no município conversa com o movimento Raiz, encabeçado pela deputada federal Luiza Erundina (SP), que a exemplo do que fez a Rede Sustentabilidade de Marina Silva com o PSB, se hospedará nesta eleição ao PSOL. “A gente quer defender uma pauta ambiental. Em Canoas nunca se priorizou uma pauta ambiental. A questão do bem-viver, de trabalhar sem adoecer, questão das ciclovias”, adianta enfatizando que “a possibilidade é grande” de se unir com o PSTU.

Beth Colombo

Para ele, Beth Colombo, atualmente vice-prefeita e também pré-candidata, “não representa o setor dos trabalhadores. É uma candidata que começou na Arena, e a Arena, como a gente sabe, foi o partido que ajudou a promover o golpe, e Canoas era a cidade de exceção. Após isso, ela foi para o PP (Partido Progressista) por 44 anos, se não me engano, e elas não se vêem representadas. A Beth Colombo não é uma candidata de esquerda, é uma candidata do Jairo Jorge. Essa é a diferença. Nós somos a única candidatura de esquerda. A única candidatura de oposição. A única candidatura com propostas, com programa e com discurso de esquerda” acredita.

Legislativo

Assumindo que a estratégia do partido está voltada para o Legislativo, Paulo Sérgio criticou os parlamentares de Canoas. “Eu costumava chamar a Câmara de homenagem, porque quando tu abre o jornal só vê a homenagem, não vê projeto que realmente melhora a vida das pessoas”, opinou. “A gente acompanhou os últimos escândalos na Câmara, onde a gente viu vereadores saindo presos, algemados de dentro da Câmara e os vereadores envolvidos, que não era só um com essa prática, infelizmente não aconteceu nada. Isso demonstra que nós precisamos de uma oposição dentro da Câmara de Vereadores de Canoas. Oposição com programa, ligado a classe, aos trabalhadores, as minorias, a população que quer os recursos sendo bem organizados”, conclui.