Timoneiro

Lixo continua tomando conta da Rua da Barca, no bairro Harmonia

Cruzamento da rua da Barca com o trem cargueiro da ALL. Foto: Bruno Lara/OT.

Cruzamento da rua da Barca com o trem cargueiro da ALL. Foto: Bruno Lara/OT.

 

A equipe de O Timoneiro segue visitando os pontos mais extremos de abandono de Canoas. Na última semana, uma equipe visitou a rua da Barca, no bairro Harmonia, que liga a rua Operário Jesus até a BR-448.

A situação é normal até onde tem asfalto. Assim o trecho é descrito para os que não residem no bairro. A rua asfaltada, porém, segue até o limite dos trilhos onde circula o trem da América Latina Logística (ALL), transportador de cargas. No restante do trecho, até a BR-448, o caminho é seguido por chão batido, embora poucos se arrisquem a circular pelo local.

São incontáveis as sacolas de lixo que o local recebe. Além disso, é o destino final para galhos, móveis descartados, roupas, animais mortos e até um tronco de árvore arrancado. Mas a cena não é rara. Pontos de maior movimento como a rua República e a avenida Rio dos Sinos também estão cobertos de lixo.

Trem na ativa

Todos os locais acima citados têm um ponto em comum: avizinham os trilhos do trem. Na rua da Barca, em setembro de 2014, um dos trens da ALL com destino a Passo Fundo, carregado com 60 mil litros de gasolina e diesel, tombou no final da tarde. No episódio ninguém se feriu, mas o susto foi grande levando em consideração que os trilhos passam a poucos metros das residências.

Ministério Público

O advogado Nelson Machado Fagundes protocolou na Promotoria de Justiça do Ministério Público de Canoas uma representação pedindo soluções para o local. Citando a arrecadação municipal de aproximadamente R$ 1,6 bilhão, ele cobrou um retorno deste dinheiro em serviços. “Não poderá o Município ter uma arrecadação européia e prestar serviços à população de nível africano”, afirmou no texto.

“A comunidade do final da Rua da Barca, final da Vila Natal, bairro Mathias Velho, composta em sua maioria por famílias humildes, convive com um quadro tétrico e totalmente incompatível com a vida, sem segurança para os que lá moram, de modo especial as crianças, senhoras grávidas e pessoas doentes”, sustenta. “Junto às casas dos moradores, existe um valão a céu aberto, em que um manancial de água parada e podre, capaz de acomodar um criadouro adequado para mosquitos que infestam a área e trazem perigo continuado a todos que residem no local”, vai além.

O que diz a Prefeitura

A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSU) informou que “realiza o Choque de Limpeza em todos os quadrantes da cidade. O que significa que, a cada 30 dias, a equipe retorna ao local para a manutenção. Todas as vezes são retirados, em média, 50 caminhões-caçamba de lixo. A SMSU promove, ainda, o trabalho de conscientização com a comunidade quanto ao destino correto do lixo, além de fiscalizar a área para evitar o descarte irregular. A Prefeitura oferece cinco ecopontos instalados na cidade para que, gratuitamente, o cidadão possa destinar seu resíduo seco”, justificou.

 

Terreno foi desocupado em 2015, com resistência dos moradores. Foto: Bruno Lara/OT.

 

“Não há necessidade de ocupações irregulares”, garante Prefeitura

Em setembro de 2015 cerca de 200 famílias ocupavam uma área da Prefeitura no loteamento Porto Belo. No dia 14 do mesmo mês, uma reintegração foi feita, deixando ao menos um ônibus queimado no local onde houve forte confronto dos moradores com a Brigada Militar.

O Timoneiro visitou a mesma área nesta semana que, cercada, serve agora apenas para o crescer da grama que já se faz alta no local. Em novo questionamento, a Prefeitura informou desta vez que em 2014 “a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação reassentou as famílias” dentro do programa Minha Casa, Minha Vida do Governo Federal.

Em 2015, salienta, houve nova ocupação irregular na mesma área, “que é considerada de risco por estar sob a rede de alta tensão. Na ocasião, antes e mesmo depois da reintegração, a Prefeitura tentou realizar o cadastro social destas famílias, mas elas não aceitaram”.

Como a área é considerada de risco e imprópria para morar, a Prefeitura garante que irá fazer “um projeto paisagístico para embelezamento da área”, pontua sem dar maiores detalhes.

Mas uma atitude da Prefeitura chamou a atenção. Após responder os questionamentos de OT sobre a área, afirmou: “Vale ressaltar que em Canoas não há necessidade de ocupações irregulares, pois a Prefeitura promove políticas habitacionais proporcionando ao cidadão o acesso à moradia própria, por meio de sorteio público e de reassentando de famílias que vivem em áreas de risco, contribuindo para o resgate da dignidade destas pessoas”. A série Abandonados, veiculada por O Timoneiro, porém, tem encontrado lugar que o próprio órgão desconhece.

 

Ônibus da empresa Vicasa foi incendiado por manifestantes no Porto Belo. Foto: Bruno Lara/OT.

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