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Comunidade

Vila de Passagem se torna Vila dos Esquecidos

No loteamento falta infraestrutura e esperança de reassentamento a famílias

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Vila de Passagem está mais esquecida ainda. Foto: Bruno Lara/OT

Vila de Passagem está mais esquecida ainda. Foto: Bruno Lara/OT

Texto: Émerson Vasconcelos
Fotos: Bruno Lara

 

Na última semana a equipe de reportagem de O Timoneiro voltou à Vila de Passagem. O que encontramos lá foi um cenário de total abandono, com dezenas de famílias vivendo em casas de chapas de compensado praticamente destruídas pela umidade. Além disso, a maior parte da infraestrutura da vila não recebeu manutenção ou foi totalmente desmontada.

Cenário caótico

A Vila de Passagem certamente não poderia mais ser chamada por este nome. É fato que muitas das pessoas que foram levadas para lá pela Prefeitura já receberam suas casas definitivas, mas, à medida que umas iam saindo, a administração municipal ia colocando outras lá. Atualmente, a maioria dos que lá residem alegam que não foram levados para casas definitivas porque tiveram algum problema de documentação. Por outro lado, várias casas estão ocupadas por famílias que aproveitaram a situação de abandono da vila para se mudarem para lá de forma irregular.

O início

O assentamento, situado próximo ao loteamento Prata, foi montado para que as famílias residentes nas vilas localizadas nos diques da cidade fossem transferidas provisoriamente em 2011. Na época, a Prefeitura explicou que a medida era necessária para liberar o caminho para a construção da BR-448, uma vez que as vilas dos diques estavam na área onde ocorreria a construção.

Quando foi inaugurada, a vila tinha ares de campo de concentração. Quando nossa equipe visitou o local pela primeira vez, em 2011, os guardas do local exigiram que os repórteres se retirassem, assim que perceberam se tratar de profissionais de imprensa. As visitas só podiam acontecer de forma guiada pela Prefeitura.

Deterioração

Com o passar do tempo, a vigilância foi ficando cada vez menos rígida, mas isso não foi algo bom. Não apenas a imprensa parou de ser barrada, mas a guarita onde estava o guarda que protegeria os moradores foi demolida e atualmente não passa de escombros.

Da mesma forma, deixaram de existir o canil, a horta comunitária e a brinquedoteca. O estábulo, onde ficavam os cavalos dos moradores que trabalham com carroças, está em ruínas e oferece risco a qualquer animal que for deixado ali.

A pavimentação das ruas, a manutenção inicial realizada na rede de esgoto, a promessa de casas duradouras e de cuidados com animais se provaram, ainda em 2011, uma maquiagem de má qualidade. O asfalto colocado nas ruas da vila para a inauguração se despedaçou poucos meses depois, e, agora, em 2016, não existe mais nem em forma de cacos. Restam buracos, areia e brita constantemente molhados pelo esgoto que transborda a todo momento. No meio do lodo formado por esta mistura insalubre, crianças brincam e ficam expostas a possíveis doenças. E este cenário não é novo, verificamos este problema de saneamento desde nossa primeira visita.

O compensado utilizado para a construção das casas, e que, segundo a Prefeitura afirmou em 2011, deveria durar cinco anos começou a mostrar claras marcas de deterioração em 2013 e hoje está completamente tomado pela umidade.

Na ocasião da nossa visita, percebemos também que várias casas estão destelhadas. Segundo um morador, que preferiu não se identificar, a Prefeitura se negou a fornecer telhas para as famílias que ocuparam irregularmente o local, deixando aquelas famílias ao relento. O mesmo morador desabafou para a nossa equipe que tem medo das condições de segurança atuais da vila e que sequer deixa seus filhos pequenos brincarem fora do pátio. Ele ressaltou, ainda, que se sente abandonado pelo poder público. “Não sou só eu, várias famílias estão aqui há mais de dois anos e não recebemos nem previsão pra sair. Agora dizem que é por documentação, mas sempre tem uma desculpa”, lamentou.

Vila de Passagem continua oferecendo um estado degradante para os moradores. Foto: Bruno Lara/OT.

Vila de Passagem continua oferecendo um estado degradante para os moradores. Foto: Bruno Lara/OT.

O que diz a Prefeitura

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SMDUH) informou que “Do total de 599 famílias, a Prefeitura já reassentou 431. Esta semana foram reassentadas mais 16 famílias e, a cada mês, serão reassentadas mais 16. O motivo da realocação da comunidade foi a construção da BR-448, obra que serviu para desafogar a BR-116”.

Informou que, em função da transferência para unidades definitivas, “a cada mudança, os módulos estão sendo desfeitos”. Ressaltou que a SMDUH “criou um grupo de trabalho, a fim de promover não apenas a limpeza e revitalização das áreas, mas também abordar a questão da educação ambiental e do combate às pragas e endemias”.


 

 

In loco: repórteres relatam sua experiência ao visitar a Vila de Passagem

Émerson

Condições mais desumanas que nos diques   

Por Émerson Vasconcelos   

 

Quando voltei à Vila de Passagem, esperava encontrar uma situação pior do que tinha visto na minha última visita. Isso era óbvio, considerando a degradação gradual das casas. Só que eu confesso que não estava preparado para ver as coisas no estado em que encontrei. Não faz sentido algum que o governo abandone uma área lotada de pessoas jogadas por ele mesmo. Lembro de que na minha primeira visita, em 2011, contestei a Prefeitura sobre a deterioração rápida da infraestrutura e uma pessoa me disse por telefone, antes de me enviar a resposta oficial por email: “Olha Émerson, não entendo do que O Timoneiro está reclamando. Essas pessoas viviam no dique, em condições desumanas e agora têm até brinquedoteca para as crianças”. Passados quase cinco anos, posso garantir que as condições de vida destas pessoas estão ainda mais desumanas do que eram nos diques ou em qualquer outra vila que já visitei. Afinal, a maioria não escolhi viver neste campo de concentração desativado, foram jogados ali. Aliás, desta última não vi nem sinal da tal brinquedoteca que tanto orgulhava a Prefeitura.


 

 

BrunoUm cenário pós-guerra  

Por Bruno Lara

 

 

Ao longe o cenário era de guerrilha.Destroços dominavam a maioria da paisagem. Alguns sobreviventes ao longe, sentados, descansando. No gramado que servia para o pasto dos cavalos, as crianças jogavam futebol. Nada diferente das grandes guerras.
Mais distante ainda, prétios enfeitam a paisagem. Uma dualidade que salta aos olhos. Uma esperança dos moradores de sairem de onde estão para quem sabe, um dia, contarem com as mesmas oportunidades daqueles que estão cercados de cimento e areia, com telhas de zinco.
A primeira imagem foi assim. Um sentimento de desrespeito, de falta de oportunidades. Pessoas que lá foram jogadas para que outras pudessem viver mais confortavelmente. Seres humanos abandonados.

 

 

FOTOS:

 

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Sorteio do Minha Casa, Minha Vida contempla 250 famílias. Confira lista.

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Foto: Jhennifer Wolleng

Com transmissão ao vivo pela internet, a Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação, realizou nesta quarta-feira (16) o sorteio do programa Minha Casa, Minha Vida. No auditório Sady Schivitz, na sede da Prefeitura, foram contempladas 250 famílias, que irão morar nos Residenciais Pistoia e Santa Fé, no bairro Rio Branco. Também foram sorteados os candidatos suplentes.

Os dois complexos habitacionais estão em fase de construção, com previsão de entrega dos imóveis para setembro deste ano. Antes de ocupar o imóvel em definitivo, os contemplados passarão pelo processo de análise documental na Caixa Econômica Federal e pelo trabalho técnico-social da Prefeitura, que promove um processo de adaptação das famílias à nova moradia.

Confira aqui a lista dos sorteados

Ao todo, os Residenciais Pistoia e Santa Fé oferecem 500 unidades habitacionais. A outra metade das famílias que irá morar no local será reassentada, já que ocupavam anteriormente invasões que foram alvo de reintegração de posse pelo município.

Nesta quarta-feira, participaram do sorteio os cidadãos que realizaram o recadastramento. Enquadram-se nos critérios nacionais famílias residentes em áreas de risco, insalubres ou que tenham sido desabrigadas, comprovado por declaração do ente público; famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar, comprovado por autodeclaração; e famílias das quais faça(m) parte pessoa(s) com deficiência, comprovado com a apresentação de atestado médico.

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Comunidade

Assembleia de Deus comemora 80 anos de fundação em Canoas

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A igreja Assembleia de Deus, de Canoas, comemora uma marco importante na cidade. O Jubileu de Carvalho da entidade ocorre nesta sexta-feira, 18 de agosto, e terá programação intensa de comemorações. O pastor Edegar Machado, líder da igreja no município há mais de 30 anos, recebeu a reportagem de O Timoneiro para falar acerca da programação das celebrações e sobre a atuação na cidade.

Tamanho

A importância da Assembleia de Deus, de Canoas, é contada também em números. A instituição, de acordo com Edegar, abrange atualmente 16 mil membros e conta com 88 igrejas na cidade. “A igreja se expandiu através do trabalho missionário e atua em diversos ponto do mundo”, conta Edegar.

Visão Social

O pastor destaca a visão social da instituição: “Não temos somente o trabalho espiritual, mas cuidamos do lado social. Eu considero isso como a outra mão da igreja. Nós temos o lado humano, que é alcançar as pessoas em suas necessidades”, comenta. O trabalho realizado abrange especialmente o cuidado de crianças. Edegar ainda citou projetos como escolas artesanais, que ajudam no desenvolvimento de trabalhos comunitários, além de postos de distribuição de sopa vinculados à Associação Beneficente Lar Esperança de Canoas , onde são atendidas cerca de mil crianças por semana.

Programação

A igreja promove cultos de celebração na sexta-feira, 19, até domingo, 20, no templo central da Assembleia de Deus, no bairro Mathias Velho. No domingo, a partir das 9 horas, ocorre concentração na praça Antonio Beló, na Rua Dr. Barcelos, onde será inaugurado um monumento em homenagem aos 80 anos da igreja. Após, são esperadas quatro mil pessoas para uma caminhada até o templo central da instituição, onde ocorrerá culto de graças.

História

Por determinação do pastorado da Igreja em Porto Alegre, o evangelista Amaro dos Santos foi designado, em 1937, para cuidar do trabalho da instituição em Canoas. Os primeiros cultos ocorreram no bairro Niterói. Ficou marcado na história da igreja um grande culto, realizado junto a uma figueira localizada nas proximidades da casa de André Lemos, em 18 de agosto de 1937. O local permanece com a figueira até hoje e, por conta disso, foi escolhido como local para a homenagem aos 80 anos da instituição.

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Canoense tem 94 anos de futebol, mídia, direção e simplicidade

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Marcelo Grisa

Hélio Ferreira da Silva nasceu em 1º de outubro de 1923. Filho de empregados na fazenda do estancieiro Victor Barreto, o motorista aposentado viu a história do século XX como poucos canoenses puderam. Hélio hoje mora com os sobrinhos Júlio Ragazzon e Raquel Araújo. E esta é sua história.

O futebol e a guerra

No começo de 1932, Hélio observava o nascimento do Sport Club Oriente, um dos mais tradicionais de Canoas. Alguns anos depois, jogou no time e virou craque. Como atacante central, marcava muitos gols.

A incipiente trajetória de Hélio Ferreira no futebol incluiu passagens pelo Canoense e até mesmo no Grêmio. Entretanto, uma grave lesão o afastou em definitivo dos gramados. Uma “pisada” deixou como lembrança um esmagamento logo acima do joelho. “Eu até poderia jogar, mas nunca mais fui. Deu muito medo”, explica.
“Às vezes eu ainda sonho com as mulheres da arquibancada me chamando. Parece que me vejo jogando de novo”, admite. Mas a vida ainda tinha reservado muito mais para o canoense de fala fácil e sorriso alegre.

Nesta época, o canoense já estava na Aeronáutica. Começava a Segunda Guerra Mundial, e todos no quartel ficavam de prontidão, recebendo apenas um dia de folga por semana. “Eu ficava em casa de farda. Se a sirene tocasse, tínhamos meia hora para nos apresentar”, lembra.

Hélio Ferreira da Silva, entretanto, nunca veria os fronts da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Há poucos dias de ser embarcado para o campo de batalha, chegava o mês setembro de 1945. A guerra acaba.

Hélio “Caldas” e Ernesto Geisel

Mesmo antes, durante e depois da guerra, a vivência nas Forças Armadas proporcionou o que seria uma de suas maiores paixões: os carros. Depois de sete anos, saiu da Aeronáutica e tornou-se motorista particular. Acabou por trabalhar 40 anos de sua vida para a Companhia Jornalística Caldas Júnior, dona do jornal Correio do Povo, como motorista da família de Breno Caldas. Por muito tempo, sua família morou na propriedade da família Caldas no bairro Belém Novo, em Porto Alegre.

Recentemente, Hélio visitou os netos de Breno, que o chamaram de “Hélio Caldas”, tamanha fora sua contribuição para a família.
Mas as mais histórias das quais Hélio mais se lembra são aquelas que envolviam os governos da ditadura militar. Primeiro, quando o golpe era dado, em 1º de abril de 1964, Breno Caldas pediu ao motorista que buscasse suas filhas na Rua Coronel Bordini, no bairro Auxiliadora, e as trouxesse ao Belém Novo. Recebeu uma arma, e deveria impedir, depois de todos em casa, que qualquer um entrasse na propriedade. Tendo que lidar com militares às portas do terreno, Hélio deixou-os entrar, mas cuidou cada movimento deles. Depois de uma medição no terreno – o que acontecia no local com frequência – eles foram embora sem maiores percalços.

Em outra oportunidade, em razão do aniversário de Breno Caldas, o presidente Ernesto Geisel, também gaúcho, veio até a fazenda para parabenizá-lo. Hélio teve que esconder um papagaio, que era ilegal, da vista do mandatário. Como um dos genros do patrão acabou por entregar a existência da ave, Geisel exigiu vê-la.
O que se sucedeu, entretanto, tranquilizou a todos. Ao ver o papagaio, que havia sido ensinado a falar muitos palavrões, o presidente desatou-se a rir mesmo sendo xingado pelo bicho.

Cuidado com o caminhão

Ao aposentar-se, Breno Caldas queria que Hélio continuasse trabalhando para ele, mesmo que não mais tendo carteira assinada por sua companhia. Não era bem sua ideia: eram os anos finais da Caldas Júnior antes de sua venda, e o motorista tinha o sonho de ter um caminhão e trabalhar com entregas.

Acabou recebendo a chave de um veículo à sua escolha entre 18 que estavam na garagem da propriedade, escondidos dos credores. “Breno puxou um bolo de chaves do bolso e disse: ‘Escolhe uma. Pode pegar.’ Mais tarde fui lá e escolhi um caminhão.”

Graças à rápida passagem da titularidade dos documentos, Hélio pode ficar com o veículo até poucos anos atrás, quando parou de dirigir. “Não quero me gabar, mas nunca causei nenhum acidente. Com a idade, preferi pedir para o Júlio aqui me levar nos lugares. Não é agora que eu vou ter um solavanco e acabar machucando alguém”, preocupa-se.

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