Por Émerson Vasconcelos
e Bruno Lara
reportagem especial
O Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas apresentou na última semana a Carta Especial Mulheres no Mercado de Trabalho. O documento produzido pela universidade apresenta um olhar sobre a força de trabalho feminina no que diz respeito à sua participação e remuneração, no conjunto da atividade econômica e também na atividade da cultura, mais especificamente os vínculos ligados as Atividades artísticas, criativas e de espetáculos e as Atividades ligadas ao patrimônio cultural e ambiental. O documento mostra um dado alarmante em relação a Canoas.
Este material é elaborado a partir dos dados disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por meio da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). As informações dizem respeito aos anos de 2006 e 2014, últimos dados divulgados.
Embora o Município esteja alinhado com as realidades nacional e estadual, com aumento de postos de trabalho femininos, a desigualdade salarial aumentou na comparação dos dois anos estudados, com as mulheres ganhando ainda menos que os homens.
Para a especialista em relações internacionais e ativista pelos direitos das mulheres Maressah Sampaio (foto), o crescimento do número de mulheres no mercado de trabalho reflete tanto o aumento geral na criação de empregos nesse período.
Em seu entendimento, a natureza das vagas criadas no município é um dos fatores que pode explicar o aumento da diferença salarial no município. “como nas vagas de empresas terceirizadas de limpeza e higienização, que oferecem um salário achatado”, argumenta.
“Quando o Brasil chegou a viver a situação do chamado pleno emprego, quando os programas sociais e investimentos que priorizaram o empoderamento da mulher, a exemplo do Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e Pronatec e a construção recorde de creches (este último fator facilitante para que as mães possam trabalhar)”. Entende ela que o âmbito estadual “seguiu a mesma linha”.
Geração de postos de trabalho
A carta do Unilasalle mostra que, em âmbito nacional ocorreu crescimento na geração de postos de trabalho tanto no total da atividade econômica, quanto na atividade cultural, e também no trabalho feminino e no masculino. No ano de 2006 o Brasil totalizava 35,1 milhões de postos trabalho, sendo que destes 14,2 milhões eram postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 17,8 mil, dos quais 7,9 mil eram vagas femininas, já no ano de 2014 o Brasil totalizava 49,5 milhões de postos trabalho, sendo 21,4 milhões postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somavam 25,4 mil, dos quais 10,5 mil eram vagas femininas.
Ao apresentar o recorte estadual, a carta constata que, assim como no cenário nacional, ocorreu crescimento na geração de postos de trabalho tanto no total da atividade econômica, quanto na atividade cultural, e também no trabalho feminino e no masculino. Em 2006 o Rio Grande do Sul somava 2,3 milhões de postos trabalho, sendo que destes um milhão era de postos de trabalho feminino. Na área cultural o conjunto dos postos de trabalho somava 416, dos quais 189 eram vagas femininas. Em 2014 o Estado totalizava 3,1 milhões de postos trabalho, sendo 1,4 milhões postos de trabalho feminino. Enquanto isso, na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somava 1300 vagas, das quais 539 eram ocupadas por mulheres.
Em Canoas não foi possível medir o crescimento na área cultural, já que em 2006 não havia nenhuma vaga na cidade registrada neste tipo de atividade. No entanto, a carta aponta crescimento na geração total de postos de trabalho e também no trabalho feminino. No ano de 2006 o município de Canoas totalizava 65,6 mil de postos trabalho, sendo que destes 22,5 mil eram postos de trabalho feminino. No ano de 2014 o município de Canoas totalizava 88 mil postos trabalho, sendo 36 mil postos de trabalho feminino. Na atividade cultural o conjunto dos postos de trabalho somava oito vagas, das quais quatro eram femininas.
Proporções mais equilibradas
Os dados nacionais apresentados na carta apontam que em 2006, no total do trabalho feminino, a proporção era de 41% e passa para 43% em 2014. Na atividade cultural a proporção passa de 44% em 2006 para 41%. Verifica-se desta forma que o trabalho feminino no Brasil avança no geral, porém recua a atividade de cultura, mesmo que tenha ocorrido um aumento na quantidade de absoluta de vínculos.
Cenário semelhante ocorre no recorte estadual. No total do trabalho feminino no Estado, a proporção era de 44% e passa para 46% em 2014. Já na atividade cultural a porcentagem que era de 45% em 2006 passa para 40% no ano de 2014. É possível detectar, através destes números, que o trabalho feminino no Rio Grande do Sul avança no geral, porém recua a atividade de cultura, igual ao comportamento do Brasil.
No caso de Canoas, no ano de 2006, no total do trabalho feminino, a proporção era de 34% e passa para 42% em 2014. Já na atividade cultural 50% são dos postos femininos em 2014. Verifica-se forma que o trabalho feminino no município de Canoas avança no geral no período apontado pela carta.
Canoas na contramão
Sobre os rendimentos, no cenário nacional, a carta mostra que as mulheres no ano de 2006 recebiam 7% a menos que a média geral dos trabalhadores e que na atividade cultural recebiam 4% acima da média. No ano de 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 4% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 1% a mais que a média. Portanto, no total das atividades econômicas, ocorreu uma redução da desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres, o mesmo ocorrendo do setor cultural, mesmo que aqui tenha o rendimento caído em relação à média.
No Rio Grande do Sul as mulheres no ano de 2006 no total dos postos de trabalho recebiam 6% a menos que a média geral dos trabalhadores. Já na atividade cultural recebiam o equivalente à média da atividade. Em 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 4% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 4% a mais que a média. Pode-se então refletir que no estado do Rio Grande do Sul, no total das atividades econômicas, ocorreu uma redução da desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres, na atividade cultural a mulheres recebem a mais que a média do setor.
Enquanto isso, no cenário canoense as mulheres em 2006 no total dos postos de trabalho recebiam 6% a menos que a média geral dos trabalhadores. No ano de 2014 no total dos postos de trabalho as mulheres recebiam 10% a menos que a média geral, e na atividade cultural recebiam 10% a menos que a média. Pode-se então refletir que no município de Canoas, no total das atividades econômicas, ocorreu um aumento da desigualdade entre os rendimentos dos homens e das mulheres. Ou seja, o município vai na contramão do que acontece em âmbito nacional e estadual no que diz respeito à valorização do trabalho feminino.