Historiadores afirmam que em todo começo de século ocorrem grandes mudanças na humanidade. O inicio do século XX foi realmente bastante conturbado. Além de a Inglaterra vir a perder espaço para novas potências econômicas, a Primeira Guerra Mundial é vista como o grande acontecimento do século XX, pois põe fim a uma época sem conflitos na Europa (1871 a 1914). Este período é marcado pelo grande momento da burguesia, graças ao crescimento do capitalismo imperialista junto à exploração dos proletariados. Lá se vão dezesseis anos do século XXI e ainda estamos tentando sanar erros do anterior, mas também não conseguimos visualizar, em longo prazo, um contexto favorável para o desenvolvimento humano.
Analisemos isto em um contexto mais regional, dentro de um país com uma democracia jovem – sim, jovem – que teve seu processo de amadurecimento e progresso interrompido por uma ditadura militar. Perderam-se ali quase 30 anos. Mas o que isso tem a ver com a segurança no nosso estado e, principalmente, na nossa Capital e área metropolitana? Tudo. Não podemos analisar uma questão de segurança pública apenas como uma questão regional, quando todo um país tem o mesmo problema, impulsionado principalmente pela disputa de poder político que é incapaz de elaborar um plano de segurança pública em longo prazo e muito menos uma transformação cultural.
O colunista e ativista Manoel Soares manifestou que se sentia triste por que a revolta das meninas que querem usar shortinho na escola repercutiu mais do que o menino que mora em uma área de risco dizer que tem medo de levar tiro. Fica bom para postar nas redes sociais, mas temos que diferenciar os contextos para não cair na desonestidade intelectual. O medo do menino é um medo real, reforçado pela mídia que cria chamadas com uma música de suspense no fundo e coloca frases fora de contexto. O dever da mídia é de informar, de chamar a população para um debate honesto sobre o papel de cada um na redução da violência, que deixou de ser urbana e das grandes cidades para espalhar-se até pelas pequenas cidades do interior e na zona rural. Não há como pedir um maior controle na segurança pública se não houver envolvimento total da sociedade.
Já o protesto pelo uso do shortinho requer uma análise. Separada ou não, dependendo do interesse do interlocutor, já que muita gente tem isso como “falta do que fazer”, talvez por que todas as manifestantes fossem do sexo feminino, o que reforça ainda mais o protesto, pois, não há nada mais arcaico e atrasado dizer a uma mulher que protestar por um direito é falta do que fazer, mas o que mais surpreende que essa frase foi proferida, acreditem, pela maioria mulheres. Seria bom que todos que pensam assim assistirem o filme “As sufragistas”. A luta pela igualdade de gênero é, também, uma luta pela segurança. Uma luta para que uma forma de se vestir não desperte os desejos mais primitivos, não só no colégio, mas na rua, na balada ou em qualquer lugar que uma mulher deseje estar confortável.
Segurança pública se constrói com participação da sociedade como um todo, não se consegue erguendo muros e usando as redes sociais como desabafo, nem deixando nas mãos do Estado, muitas vezes incompetente, uma questão que é de interesse de todos.