Após seis anos, Presídio Canoas I é inaugurado

Texto e fotos: Bruno Lara

 

Por volta das 11 horas da manhã desta terça-feira, 1º de março, a Penitenciária Estadual de Canoas I (PECAN I), primeiro módulo dos quatro que compõe o Complexo prisional situado no bairro Guajuviras, foi inaugurada pelo governador do estado, José Ivo Sartori (PMDB) e pelo prefeito Jairo Jorge (PT).

A estrutura deve abrigar 393 apenados de regime fechado, sendo que ao menos 17 destes, trabalhadores laborais, já residiam no local na hora da inauguração oficial dos mais de 5,3 mil metros quadrados que ampara três galerias idênticas, com 16 celas, todas com oito detentos cada. O restante deve ocupar seus lugares ainda nesta tarde, em comboios que carregam de 10 a 15 detentos por vez. Todos eles, segundo prometem as autoridades, serão de baixa periculosidade e passaram por uma triagem da Susepe e da Vara de Execuções Penais para que não pertençam a facções criminosas. Uma obra orçada em quase R$ 18 milhões com quase três anos de obras e seis de tratativas entre os governos.

 

 

Segundo Wantuir Jacini, secretario estadual de segurança pública foram mais de 10 reuniões entre o município e o estado para que se chegasse a entrega do módulo, em uma cooperação entre as duas instâncias de governo. “Essa política foi elaborada pela então governadora Yeda Crusious e pelo prefeito Jairo Jorge, que não só concordou com o projeto como doou a área”, afirmou. Abrindo os trabalhos, Jacini foi o responsável para expor que, para a inauguração do restante dos módulos, ainda falta o cerceamento da grade do complexo, as ligações internas, o bombeamento de água e esgoto, além dos bloqueadores de celular. Para ele, no “final do ano para o início do ano que vem, paulatinamente” a estrutura poderá estar inteira em funcionamento.

 

Apostando na família

Em seu discurso, Sartori comentou sobre a crise na segurança pública no Rio Grande do Sul e salientou que o governo não está medindo esforços para a busca da solução do problema. Ele acredita que são vários os fatores que levam a criminalidade, o que os torna mais difícil de combater. “Poderíamos falar da desagregação da família, da crise de valores, do desemprego que, nos momentos de dificuldade, se acentua a esse processo, da violência, da falta de perspectiva, em muitas ocasiões, para a nossa juventude, do consumo de drogas e de inúmeras causas que estão na raiz da criminalidade. Na verdade, quando uma casa prisional se ergue é porque, antes disso, uma casa familiar sucumbiu”, discursa.

Para o prefeito de Canoas, Jairo Jorge, a violência é uma questão de todos. “A violência não é apenas um problema dos nossos bravos policiais. Sua superação exige a mobilização e a união de toda a sociedade e de todas as áreas do poder público. Não podemos nos paralisar diante do medo. É preciso agir”, pediu.

 

Posto avançado do crime

Segundo o Chefe do Executivo Municipal foi a atual administração quem ofertou a área para a governadora Yeda Crusius (PSDB). “Em abril de 2009 eu fui procurar a governadora Yeda para oferecer ao estado do Rio Grande do Sul uma área de 50 hectares, em Canoas, para a construção de um novo modelo de presídio. Nossa proposta era transformar esses prédios em espaços de ressocialização baseados no trabalho e no estudo. Queríamos também um novo tipo de gestão, as Parcerias Público Privadas (PPPs). A tradição dos prefeitos era rejeitar presídios. Neste ato ousado, propus a governadora um novo caminho. Esse projeto poderia gerar mais desenvolvimento, mais qualidade de vida, mais segurança para os canoenses”, explicou.

Jairo alfinetou, em seu discurso, a falta da aquisição do bloqueador de celulares por parte do estado. “Firmamos, desde 2009, o compromisso de implantação de bloqueadores de celulares para impedir que o presídio se transforme em um posto avançado do crime”, disse. Também afirmou que a parceria entre município e estado auxiliará na administração da quantidade de detentos na estrutura. “Por decreto, em 2014, foi criada a gestão compartilhada entre a Prefeitura e o Estado que será uma experiência inovadora. Através dessa parceria vamos impedir a superlotação. Não queremos que este complexo se torne, no futuro, um novo Carandiru”, conclui agradeço ao governador Sartori “por seu diálogo e respeito”, embora anteriormente tivesse criticado o pemedebista, justamente por falta de diálogo.

Bairro não queria

Os moradores do mais populoso bairro canoense, o Guajuviras, reclamam da nova instalação. Para eles, a obra foi construída sem questionar a vontade dos moradores que agora tem como vizinhos pessoas que não confiam e temem. Presente na inauguração, o vereador Francisco da Mensagem (PSB), morador do bairro, falou sobre a necessidade da instalação. “O grande desafio que nós encontramos é que hoje as pessoas reclamam da falta de local para prender aqueles que cometem crimes. O que acontece é que, se hoje as cidades absorvessem seus presos, se cada cidade fosse responsabilizada por aqueles que cometem delitos, não teria esse caos na segurança pública que a gente vivencia hoje. Falta de espaço por que nenhuma cidade quer construir presídios, mas quer que os caras fiquem presos. Esse é o grande viés que eu vejo não questão do presídio. É importante e necessário”, opina.

 

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