E o navio vai, navegando pelas águas tranquilas do rio, rumo ao mar, o destino final. E os mestres vão descendo nos portos, vão ficando pelos caminhos da historia. Saramago, Garcia Marquez, Eduardo Galeano, Rubem Alves, Harper Lee, Umberto Eco. Os mestres decidiram descansar, deixando- nos um pouco órfãos de sua sabedoria.
No final de semana vi tantas postagens sobre Umberto Eco, nas redes sociais, que fiquei empolgado, querendo chamar o pessoal para debater alguma de suas obras, quem sabe Apocalípticos e Integrados, mas não, o pessoal só conhecia “O nome da Rosa”, que bom, por que ali Eco tinha criado um gênero quase desconhecido: o gênero policialesco e de investigação ou, pelo menos, as bases. Esses mesmos internautas que foram chamados por Eco de ”uma legião de idiotas”, mas que em Apocalípticos e Integrados faz um debate espetacular entre os apocalípticos que acham que a cultura de massas e a ruína dos altos valores artísticos e os integrados, para quem a cultura de massas é o resultado democrático da integração das massas a sociedade (leia-se funk, big brother, etc.). Mas seria muito complexo e extenso explicar a vida de um homem que começou como filósofo, que descobriu o termo Semiótica, que tem mais obras na área de filosofia , linguística e, claro, semiótica, do que romances.
Também não quero ir além, mas vale mencionar que Eco foi professor nas universidades americanas de Yale e Harvard, assim como no Collège de France, é autor de uma vasta bibliografia ensaísta, citando-se, entre outros, “O signo”, “Os limites da interpretação”, “Kant e o ornitorrinco” e “Como se faz uma tese em Ciências Humanas”, tendo dirigido e organizado obras como “História da beleza”, “História do feio” e “História das terras e dos lugares lendários”.
Enfim, Umberto Eco nos deixou. “Número zero”, que é um manual do mau jornalismo, se você achar qualquer semelhança com a realidade não e mera coincidência. Ambientado em 1992 mostra a história de um jornal criado para difamar.
Fica aqui uma singela homenagem a um grande mestre que terá, nesta terça-feira , um funeral simples, com amigos muito próximos e familiares.
*E La nave va – é um filme italiano de 1983 dirigido por Federico Fellini. Nele são mostrados os eventos ocorridos a bordo de um navio luxuoso, onde os amigos de uma falecida cantora de ópera se reúnem para o funeral dela.