Timoneiro

Opinião: O que ocorre com os professores

 

Comecei a assistir a tão comentada série Breaking Bad. Uma ficção realista. Um professor lavava o carro de um aluno. E isto parece cada vez mais possível e corriqueiro de acontecer, sobretudo no ensino médio, como é o caso do personagem Walter White, vivido pelo gigante do cinema Bryan Cranston. Embora tenha estreado em 2008 e já vivido cinco temporadas de sucesso, sendo o último episódio em 2013, a séria do canal americano AMC que se passa em Albuquerque, no Novo México, ainda conquista fãs pela realidade enérgica dos acontecimentos.

Dizer para um aluno que este não chegará a lugar nenhum sem estudo é motivo de riso dentro das salas de aula do país. Bem pelo contrário. Estudar demais parece não dar resultado e levar muito dinheiro embora. Veja o exemplo dos professores. Uma classe essencial para a formação da sociedade, mas, mesmo assim, por ela desqualificada. Um profissional que trabalha muito, atura desaforos dos alunos que povoam as salas superlotadas, precisa de tempo para o planejamento de aulas e correção de avaliações, mas que recebe um salário mediano, muitas vezes menor do que aqueles em empregos temporários que sentam para ouvir a sua aula.

A Argentina do recém-empossado Maurício Macri, queridinho da direita brasileira, tomou uma atitude radical ao tomar ciência de que as centrais sindicais dos professores queriam boicotar a volta às aulas em 2016. Aumentou o mínimo nacional a ser pago para o corpo docente de todo o país em 29% no início do ano letivo, que na Argentina começa em março, e um aumento de 40% a partir de julho. Isso significa que nenhum professor deve ganhar menos de 8.500 pesos, ou seja, R$ 2.319,00. Hoje alguns recebem em torno de R$ 1.670,00.

A atitude é simbólica, muito em função da inflação substancialmente maior do que a que já assusta os brasileiros atualmente. Não é uma garantia, embora isso sim seja esdrúxulo, de que o governo realmente irá pagar acima do piso. O ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, queridão da esquerda gaúcha, fez o mesmo e até hoje não pagou.

A conta é curiosa e não fecha. O Brasil investe 6% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com educação. Países referência na área como Estados Unidos (4,7%), Chile (3,1%) e Singapura (3,1%), gastam menos, alguns quase a metade disso. Aqui, porém, os alunos tiram notas inferiores em todas as avaliações.

O professor brasileiro, em início de carreira, ganha cerca de UU$ 12 mil ao ano. As escolas, em geral, são mal cuidadas e não oferecem, nem de longe, o necessário para o aprendizado pleno dos alunos. O país gasta em torno de UU$ 3,4 mil dólares para cada estudante matriculado na rede pública. Os materiais escolares, não fora do balaio, têm em média alíquotas de tributos superiores a 40%, o que é bem considerável da ótima da economia. A questão que não quer calar é: Onde estamos errando?

Uma quantidade interessante de recurso e energia está sendo investida na educação. Os professores não ganham pouco se comparados aos demais países referência. A resposta parece não vir do contracheque, mas da cultura. Enquanto mães agredirem professores dentro da sala de aula e o docente for punido, enquanto os alunos continuarem tratando-os em sala com o mesmo desrespeito que tratam os pais em casa, enquanto o problema for sempre os profissionais e não a comunidade a sua volta, os professores continuarão desmotivados, desgostosos e sem o protagonismo necessário para ser um exemplo positivo para as crianças que assistem a suas aulas.

Como dizem os mais antigos, em toda a sua sabedoria, na escola se ensina as disciplinas, a vivência em comunidade, mas a educação vem de casa.

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