Timoneiro

Opinião: O gosto pelo mediano

Zeca13012016

Por José Carlos Rodriguez

Os primeiros dias do ano começaram na tranquilidade, mas com muita reflexão. Não que tenha planejado muitas mudanças, elas já começaram a acontecer bem antes. Em um destes dias, me peguei (e as vezes eu me acho em algum canto), pensando em como a humanidade esta se acostumando ao mediano. Fomos perdendo, principalmente nas ultimas três décadas, o gosto pela excelência na música, no esporte, na política, no trabalho, etc. As pessoas perderam aquele gosto de ir  a uma loja de discos, procurar algo que lês toque a alma, que arrepie a pele, seja para levar para casa ou dar de presente, um disco, um CD, até uma fita cassete e dar um pedaço de sentimento para alguém. Quando você ouve a música em uma loja e diz: ”nossa, arrepiei”.

As raridades na musica estão escondidas, na internet, nas lojas cult. Nossos grandes já são vovozinhos, já não produzem como antes, deram tudo de si e morrem. Se formos falar da maior paixão esportiva no planeta, então, poucas palavras bastam. Quando um garoto desconhecido, sem clube, faz o gol mais bonito em um ano cheio de competições não precisamos dizer muito. Onde esta a excelência dos altos salários? Onde esta o gosto pelo drible que entorta o adversário, pelo lance fantástico, pelo último segundo? Idolatramos pessoas, principalmente no futebol, que não passariam em uma peneira na década de 80.

No trabalho, bom as pessoas já não trabalham, cumprem horário ou, pelo menos, é o pensamento que guia a procura do sustento. Aah, mas tivemos muitas conquistas, sim, com o retorno das democracias, principalmente na América Latina. Retomamos muita coisa que nos foi tirada, mas, convenhamos , houve uma precarização nas relações como na execução das tarefas. A política é o ponto que nos move, pois ela esta em tudo que foi mencionado. Não temos como desvincular a política da nossa vida, ela e inerente a nós, esta na música, no futebol, no trabalho, no preço dos alimentos, dos combustíveis. E como ela esta em tudo, aí é onde mais sentimos a falta de excelência. Onde estão os grandes estadistas? A América Latina foi tomada por um progressismo alternativo que sofre de acefalia ideológica, incapaz de manter uma linha de pensamento e, muito menos, de fazer as mudanças necessárias.

Pegamos pequenas coisas daqui e dali, administramos o capital de 1% do mundo e nos contentamos com isso? E seguimos com raras exceções. Ernesto Guevara fez seu discurso perante a Assembléia Geral da ONU em 1964, quem chegou mais perto dessa excelência foi Mujica em 2013, 49 anos depois! Poderemos estar de acordo ou não, mas o aspecto visionário de ambos os faz excelentes. Dizia Mujica, no começo do seu discurso que o angustiava o porvir, que não vai vir, nada mais real, com políticos incapazes de articular três frases completas com o mínimo de sentido. É angustiante.

E assim caminhamos, com esperança em dias melhores, ou excelentes, paremos de contentarmos com o mediano, sejamos inconformados, isso é o que move as mudanças. No Uruguai há um monumento de uma mulher alada, que se sustenta apenas em um ponto. Dizem que quando perguntaram ao artista o significado ele respondeu: “assim como o pássaro tem asas, o homem tem ilusões e isso que o sustenta”. Eu trocaria ilusões por utopias, pois a utopia está no horizonte. Como diria Galeano, um dia a gente chega lá. Abraços fraternos.

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