Segundo Aristóteles, “todo homem e um animal político”, pois somente ele possui a linguagem e esta é o fundamento da comunicação entre os seres humanos. Segundo seu ponto de vista, os demais animais só exprimem dor e prazer, mas o Homem utiliza a palavra (logos) e com isso sua capacidade de julgamento entre o bem e o mal, o certo e o errado. Causou-me estranheza ao ver uma noticia veiculada no Jornal O timoneiro, onde um cidadão, em reunião com um secretario municipal – o qual ficou alterado – dizendo “nós somos gente, nós não somos políticos”. Aqui é onde entra o imaginário coletivo. Vejamos bem: o imaginário coletivo é um conjunto de símbolos, memória, imaginação e conceitos de um grupo ou comunidade.
Nos últimos anos, no Brasil e, digamos, na America Latina, tem-se desenvolvido um conceito sobre a política baseado na imaginação do cidadão, mas alimentado pela cada vez mais importante na formação e reprocessamento do imaginário coletivo que é o papel desempenhado pelos meios de comunicação social. O problema reside em que esses meios transformaram-se em verdadeiras corporações com interesses próprios, por tanto, o cidadão comum não tem uma visão tão real da situação, o que alimenta o imaginário coletivo em uma só direção, nós somos nós, eles são os políticos. Se trocássemos a frase por “nós somos os bons, nós não somos maus”, mudaria a interpretação, mas não o conceito. Talvez se eu pudesse falar com o cidadão e perguntar qual o seu conceito sobre política ouviria frases repetidas em redes sociais, ou não, alimentadas pelos grandes meios de comunicação. Mas o que ele não entenderia, talvez, é que ele estava em uma reunião política, pois estava fazendo uso da palavra (logos) e assim, expressando seu ponto de vista, então, além de gente ele também é político. Se ele é casado dir-lhe-ia que o matrimônio é uma união política, que seus sogros e cunhados são parentes políticos, e assim por diante, pois não pretendo que chegue a fazer um estudo profundo da obra de Aristóteles.
As comunidades e seus cidadãos devem ser informados de quem ostenta o poder realmente para que se elimine o conceito de que os políticos pertencem a uma casta superior, mas que são gerados nos seios de suas próprias comunidades, com o mesmo conjunto de símbolos, memória, imaginação e, sobretudo, conceitos. Nas jovens democracias latino-americanas os cidadãos devem ser estimulados a reunir-se em seus bairros para de discutir e determinar os seus destinos,o que já acontece em alguns países vizinhos ao Brasil. Estudemos e entendemos as nossas democracias, baseadas na democracia greco-romana, que percorreu um longo caminho para a criação dos direitos políticos e da participação popular que perpassavam pela superação das hierarquias sociais, do domínio da aristocracia e da tirania. Dessa comunidade é que devem surgir as propostas que serão levadas aos “políticos”, que são gente como nós e que nós mesmos os escolhemos para que nos representassem.
Abraços fraternos.