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Secretário perde a compostura em reunião com associações no Igara

Reunião na sede da Amorji na manhã de segunda-feira, 21, reuniu quatro pastas do governo Jairo Jorge e duas instituições. Foto: Bruno Lara/OT

Reunião na sede da Amorji na manhã de segunda-feira, 21, reuniu quatro pastas do governo Jairo Jorge e duas instituições. Foto: Bruno Lara/OT

Com dedo em riste, o secretário adjunto de Relações Institucionais da Prefeitura de Canoas, Célio Piovesan, perdeu a postura em uma reunião na manhã desta segunda-feira, 21, entre o poder público, a Associação dos Moradores do Jardim Igara II (Amorji) e representantes do Grêmio São Cristóvão, no bairro Igara. A pauta era informar oficialmente a associação da perda de uma das áreas antes por ela administrada.

O tumulto começou quando uma das presentes na reunião ameaçou o integrante do poder Executivo de tentar persuadir o presidente da associação, Carlos Alberto da Silva, em uma reunião com seis secretários do governo Jairo Jorge, dentro da Prefeitura, a desistir da resistência ao projeto. Após ouvir isso, e já irritado anteriormente com os moradores que não aceitavam a nova ideia, Célio levantou da cadeira e alterou o tom de voz com a moradora, inclusive com o dedo apontado para a mesma.

 

Somos gente, não políticos

Outro integrante da entidade então se levantou e foi ao encontro do secretário. “O senhor não aponte o dedo para ninguém aqui”, dizia enquanto afastava as mulheres que também foram discutir com o representante do governo. “Ninguém faz conluio naquela secretaria. (…) A acusação, você vai ter que provar isso. (…) Veio lá dar carteiraço (sic). Todas as reuniões têm lista de presença”, se defendeu. O presidente interveio. “Nós estamos aqui democraticamente. (…) Vamos acalmar, gente. Não vamos levar nada para o lado pessoal. Eu disse desde o começo, vamos fazer com que a coisa seja social e democrática. Nós somos gente, nós não somos políticos”, concluiu.

Curiosamente a secretaria pela qual Piovesan responde como adjunto tem como competência, segundo a própria Prefeitura de Canoas, “o relacionamento com a Câmara Municipal de Vereadores, manter contatos com lideranças políticas e parlamentares do Município, com representantes da sociedade civil, com organizações comunitárias, governamentais, coordenar o Orçamento Participativo e as Plenárias de Serviços Públicos”. O titular da pasta, que não estava presente, é o sociólogo Jorge Branco, que trabalhou no governo Tarso Genro (PT) até 2014 e, com a derrota de Tarso, veio para Canoas.

 

Área possui dois projetos

A discussão é antiga na área e perdura há mais de 15 anos, segundo os moradores. “Tem uma área de serviço que foi projetada junto aos moradores, que seria uma praça ou parque. Dentro disto, várias vezes, já houve um direito de uso assinado pela Prefeitura para o time do São Cristóvão. Essa área sempre vem sendo usada por várias pessoas da comunidade. Depois disto veio um edital, eles ganharam o direito de um sistema, em cima de um projeto de uma praça, saiu um edital. A associação e os moradores não se anteporam (sic) a este projeto, pois tinham isto aqui como uma área de parque. Quando nós vimos estavam colocando no edital para esporte. Isso então nos pegou de surpresa. Então não entramos no edital, não fizemos nada que fosse contra aquele ato e fomos impugnar o edital via jurídico. Não veio resposta nenhuma e ficamos aguardando. Em cima desse aguardar se tornou esse impasse” explica Carlos.

Outra parte envolvida é o time de futebol São Cristóvão. Mas, segundo seu diretor administrativo-financeiro, Hernani Amaral, a área foi ofertada a eles pelo poder público. “O São Cristóvão tem uma posição bem clara nesse aspecto: Em nenhum momento nós pedimos o campo localizado aqui nesta praça. Esta praça foi disponibilizada através de edital e o Grêmio São Cristóvão se habilitou através do edital público. Se habilitou a uma área para a prática do futebol. Essa não é uma área privada. Ela vai administrar a área, mas voltada para o lado social, inclusive com a participação de escolas que trabalharão aqui e a comunidade que vai desfrutar dos jogos, rachão domingo à tarde, onde vamos abrir o campo, obviamente dentro de regras”, lembrou.

A Amorji se colocou à disposição para conversar, mas criticou a falta de articulação política do governo. “Dizem que hoje, como eles tem direito no edital, que vão fazer de qualquer jeito. A gente está aberto para o diálogo. A gente está aberto para que a comunidade se entenda. Isto aqui não é nosso, não é só do Jardim Igara II, da Amorji II, isto aqui é de um bairro, de uma comunidade inteira”, afirma.

Para o secretário adjunto, no entanto, a Amorji, instituição que atua no local há 33 anos, é “um grupo de pessoas que está privatizando a área para algumas pessoas”. Em entrevista, explicou que todas as praças devem ser públicas. “É uma comunidade que tenta se apropriar de uma área pública. Todas as praças são de interesse público. Nós temos aqui um programa de uso compartilhado das áreas, todas elas, é a partir de regras, de editais públicos estabelecidos, inclusive por regra do Ministério Público. E essa não é diferente de qualquer uma.  Mas aqui há um entendimento de que a área é destes moradores. Isso é uma forma de apropriação das áreas públicas incorreta por que todas as áreas públicas são de interesse público”, explica. “Não é posição da Prefeitura, isso esta na regra. Se tem um edital público, uma vez que a área foi licitada para o uso, quem se apresentou e se qualificou para isso tem o direito de usar”, conclui.

Projeto da Amorji previa uma área de lazer e um campo de futebol. Foto: Bruno Lara/OT

 

PSB de saída do governo?

A reunião seguia sem muitos sorrisos de nenhum dos lados. Os moradores afirmaram que vão em busca de assinaturas para barrar a novidade. “Essa é uma política pública e ela tem que ser mantida. Essa fase está vencida. Nós viemos aqui para demarcar a questão dos espaços. Aqui tem tampa quebrada, cerca caída”, lembrou um dos membros do governo presente. Os presentes levantaram que a área é alvo de retaliação do poder público por negar a área. “Se ele (prefeito) falou em retaliação, mentiu. Quem faz a distribuição é o prefeito”, afirmou o secretário municipal de Esporte e Lazer, Edimilson Tresoldi, cargo do PSB no governo, o que indica um possível distanciamento da sigla.

Para o secretario municipal de Meio Ambienta, Carlos Atilio Todeschinni, a reunião não era para negociar, mas para estabelecer o que já estava definido. “Não estamos aqui para retroceder. Não está mais na nossa alçada. Estamos aqui para cumprir o que está estabelecido”, afirmou durante a reunião.

 

Atualização: 22 de dezembro – 10:15

Não era o prefeito

O secretário municipal de Esporte e Lazer, Edimilson Tresoldi, ligou para a redação de O Timoneiro na manhã desta terça-feira, 22, para contribuir com a correção de um erro cometido pela equipe presente no local.  Segundo ele, uma moradora informou a ele que “alguém, não citou o nome, que alguém tinha dito que não colocava a quadra por retaliação, mas não o prefeito”. Tresoldi aproveitou para lembrar que somente no bairro igara há quatro academias ao ar livre. “Jamais diria isso sobre o prefeito”, reiterou. “Na verdade aquilo ali, como sendo uma área pública, estamos tentando fazer uma mediação para fazer uma mediação tanto com a associação, que é legitima, quanto com o São Cristóvão”, explica. Para o membro do Executivo o que há na área é um preconceito dos moradores com o esporte “que não pode mais ocorrer no século XXI”, argumenta.

 

 

Conciliação possível

Para Hernani, a única demanda é ter um espaço em boas condições, independente se naquela área ou não. “Nós só queremos uma área para a prática esportiva do futebol e uma área adequada, com grama boa, com drenagem, com vestiários, uma área bem definida. O Grêmio São Cristóvão participou por seis anos da manutenção do Centro Olímpico, ou seja, é a maior demonstração de que nós não queremos privatizar uma área pública, nós queremos democratizar uma área pública”, afirma. Segundo ele, o próprio grupo mantinha o espaço. “Nós mantínhamos o campo. Nós colocávamos terra preta, nós cortamos grama, mantínhamos as redes, as bandeirinhas, pintura de campo. O Grêmio São Cristóvão sempre administrou a área pública de uma forma pública”, salienta.

Para a Amorji, o que falta é o companheirismo. “Eu acho que a melhor maneira é se o órgão que tem interesse aqui trabalhasse junto, em uma parceria com a associação, com os moradores, de que conservasse a pista de caminhada, conservasse as áreas livres, conservar toda a área que foi projeta, porque aquilo ali é dinheiro público, foi pago, foi feito 3, 4 projetos pagos com o dinheiro público do mesmo projeto, sendo que houve um em 2006 e outro em 2011. Projeto sobre projeto”, sugere Carlos. “Não há nem por que. A área vai ser utilizada tanto por um quanto por outro, apenas será administrada com regras claras de que tem que se manter o campo em estado adequado para campo”, afirma em resposta sugestiva o diretor do Grêmio São Cirstóvão.

 

Praça sucateada

Inaugurada no início deste ano, a Praça Dom Vicente Scherer já vive dias difíceis. Conforme explica o presidente da associação dos moradores do Jardim Igara, a estrutura está prestes a ficar inutilizada em função da falta de reparos. “Neste de 2011 (projeto) deu R$ 99 mil de investimentos para a revitalização da Praça Dom Vicente Scherer, sendo que até hoje nós estamos com a praça sem luz, com as tubulações, os suportes, todo o material ali de terceira qualidade, já caindo e se deteriorando. Estamos sem iluminação porque incendiou toda a parte elétrica da praça inaugurada. E agora, quando vimos tem esse projeto que já esta estabelecido e queremos que seja cumprido pela Prefeitura aquilo que os moradores e os bairros adjacentes querem. Isso que é importante para nós”, lembra.

Moradores não querem um campo de futebol administrado pelo Grêmio São Cristóvão na praça. Foto: Bruno Lara/OT

 

 

Vídeo: Veja vídeo do desentendimento na página de O Timoneiro no Facebook.

 

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