Timoneiro

Dislexia política: Parlamento da bala e a ridicularização da direita

bruno09122015

 

A Câmara dos Deputados calou a boca de todos aqueles que dizem que a Casa não representa o seu povo na sessão de ontem. Não por escolher a chapa que representa a oposição, mas pelo fiasco. Temos um parlamento que resolve as discussões políticas com dedo na cara, com a quebra de urnas eletrônicas para evitar votação, com discursos sem dados embasados em instituições sérias. Tudo isso tanto de um lado quanto de outro. Temos até uma “bancada da bala”. O povo foi representado a nível internacional por seus escolhidos. Passamos vergonha.

Porém, não podemos grenalizar. Não é uma relação simples. Quem é a favor do impeachment é Cunha, quem é contra é petralha, ladrão, vagabundo. Quem está indeciso é Juventude, ou Marina. Esquecem-se os esportistas que existe o Zequinha, o Brasil de Pelotas, o Estância. Mas lembram bem do Chapecoense. Este na política seria Michel Temer. Sempre comendo pelas beiras, mas quando ataca faz logo um 5 x 0.

O Brasil vive uma dislexia política. Desde a revolução francesa aprendemos na escola que os “da direita” são aqueles que querem manter a monarquia, ou os conservadores. Os que estão “à esquerda” são os que pensam na República. Os que querem mudanças radicais e a liberdade acima de qualquer coisa. Esquecem-se os interessados por política que o PMDB já foi esquerda, que o PSDB também. Hoje tidos como direita, que olham para os banqueiros, como se o partido dos trabalhadores fizesse diferente.

Tantas trocas ocorrem que o público não sabe mais quem é progressista e quem é conservador. Até porque os conservadores não se aceitam e colocam o nome do partido de progressista. É ruim, retrógrado, não dá voto. Os liberais, por sua vez, rejeitam o Estado. Acreditam que o poder público é imparcial e só deve garantir o cumprimento das leis, nada mais.

Trazendo para o contemporâneo e regionalizando, podemos ver tais discrepâncias. Jair Bolsonaro, ícone da direita pertence ao Partido Progressista (PP), uma sutil ironia pelo mesmo ter vindo da Arena, antigo partido dos militares. Jean Wyllys, do Partido Socialismo e Liberdade, representa a esquerda mais ferrenha da atualidade. Ambos discordam em tudo, menos que precisam ocupar uma cadeira no Congresso Nacional para que sejam ouvidos. E é assim que podem coexistir. Uma democracia precisa, para ser sólida, de posições opostas.

A direita brasileira foi ridicularizada e por culpa própria. Primeiro por não se assumir de direita; segundo por ter ícones tão jocosos. Os da música são Lobão e, no mais alto nível, Roger do Ultraje a Rigor (que já foi esquerda). Na literatura, Olavo de Carvalho (que dispensa comentários). Na política, a base evangélica (ou bancada da bala) e Jair Bolsonaro e suas frases marcantes. Competir com a esquerda de Chico Buarque, Zygmunt Bauman e Lula não é uma tarefa justa. Em suma, os políticos não representam mais ninguém só a si mesmos e mesmo assim ainda fazem um péssimo trabalho.

Em Canoas os papéis também se confundem a exemplo do que ocorre a nível nacional. O Prefeito, Jairo Jorge, do partido dos trabalhadores, é um progressista de fato – o que não é um elogio. Sua vice, Beth Colombo, uma conservadora de biografia – o que não é uma crítica – no partido progressista. O que ambos fazem juntos é o que o povo se pergunta. A diferença de Canoas para o Brasil é que aqui o PMDB não tem tanta voz, o que se espera corrigir no próximo pleito. Jairo e Beth, uma dualidade que governa um município com graves problemas e soluções criativas massivamente divulgadas. O que se espera de uma junção de opostos dessas é que um se sobressaia. Só espero que Beth envie um email.

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