
O bairro Niterói ficou alagado. A casa de bombas do bairro não foi ligada por falta de energia elétrica. Foto: Bruno Lara/OT
Bruno Lara
A última semana foi de chuvas no estado. Os ventos ultrapassaram os 134 km/h. Em Canoas, cidade mais afetada do estado, a noite de quarta-feira, 14, para quinta-feira foi a pior. Com ventos de 96 km/h, granizo e muita chuva, ruas ficaram alagadas, casas foram destelhadas ou apresentaram goteiras. Até a manhã de quinta-feira, 15. Receberam desabrigados o Ginásio São Luis; a Igreja Imaculada, no bairro Rio Branco; a Igreja Santo Antonio, no bairro Fátima; a Igreja Nossa Senhora do Trabalho, no bairro Niterói; a Escola Paula VI; e um prédio situado ao lado da Subprefeitura Sudeste, no bairro Niterói.
Segundo a Prefeitura, ao menos 10 mil casas foram afetadas pelo granizo e por alagamentos, 30 mil pessoas foram atingidas pelas chuvas, que totalizaram 81 mm em nove horas. São mais de mil famílias atendidas com lonas na madrugada pelas equipes da Defesa Civil e secretarias municipais, mais de 14 mil telhas distribuídas e cerca de 600 pessoas abrigadas entre ginásio, escolas e igrejas.
Bruna Alves Colares, 22 anos, morava na rua Berto Círio, com mais oito pessoas, quatro delas crianças, mas desde o domingo, 11, passou a ficar no ginásio do São Luís. “Levou tudo de uma vez”, lembra. Também não é a primeira vez de Bruna. Quando morava no bairro Mathias Velho viu seus pertences irem com a água em função de um temporal. “Começar tudo de novo, mais uma vez”, relata.
Energia Elétrica
A área da AES Sul, que atende três mil pessoas em 18 municípios do Rio Grande do Sul, foi atingida por três temporais de grande intensidade em um espaço de 12 horas. Em nota, a concessionária informou que o sinistro provocou “danos de grande relevância na rede de distribuição e transmissão de energia elétrica. Ventos com velocidade acima de 100 km/h derrubaram árvores, postes, torres de linha de transmissão e danificaram diversos equipamentos”. E empresa atendeu com um contingente de mais de mil eletricistas técnicos em campo no atendimento. De acordo com a CEEE, cerca de 200 mil clientes ficaram sem luz.
Na quinta-feira, a empresa calculava que aproximadamente 400 mil clientes ficaram sem energia elétrica em toda a área de concessão, sendo o maior volume, de 125 mil, foi na Região Metropolitana. Devido à queda das torres e cabos partidos, sete linhas de transmissão foram desligadas. “Essas linhas levam energia para 109 mil clientes de Quaraí, Uruguaiana, São Sepé, Formigueiro, Caçapava do Sul, Jaguari, São Pedro do Sul, Santiago, São Francisco de Assis, Cacequi, Faxinal do Soturno e Agudo”. Uma linha de transmissão da CEEE também foi desligada, que atende 53 mil clientes da AES Sul em Canoas e Nova Santa Rita. Confirmou, inclusive, que foram registradas cerca de 20 mil descargas atmosféricas nas últimas 12 horas na área de concessão da empresa.
O porteiro Fabio Alexandre, 45 anos, morador da Niterói, teve sua casa alagada. “Água por aqui. Para cima do joelho”, relata. “Só sobraram as televisões. O resto foi tudo. Geladeira, fogão”, lamenta. Segundo ele, é a primeira vez que isso ocorre. “Já aconteceu de encher a rua, mas assim não. E está desde ontem, às onze da noite, assim. Não baixa”, lamenta. Fabio acredita que o problema é da população. “Os culpados não são os políticos. O Culpado é o povo que vota”, deixa o recado.
Emergência
O prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PT), decretou situação de emergência no município, no final da manhã de quinta-feira, 16. Foram registrados 81 milímetros de chuva, mais de 70% do volume esperado para todo o mês de outubro, que é de 114 milímetros. O decreto é necessário para que o Município tenha sua situação reconhecida por outros entes (Estado e União) e possa utilizar recursos próprios e desses para recuperação das áreas atingidas. Na madrugada, 82 pessoas foram removidas de suas casas e acolhidas em duas escolas municipais: Santos Dumont, ( Niterói), com 52, e Paulo VI (Fátima) com 30 pessoas. A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil atendeu cerca de 500 pessoas em sua sede, além de centenas de chamados por telefone até às quatro horas. Estima-se que as equipes da Prefeitura tenham efetuado mais de um mil atendimentos diretos nas ruas.
Milton Teixeira, 77 anos, carpinteiro e Nair Cristóvão, 75, doméstica, estão alojados no Ginásio do bairro São Luís desde terça-feira, 13. Foto: Bruno Lara/OT
Milton Teixeira, 77 anos, carpinteiro e Nair Cristóvão, 75, doméstica, estavam alojados no Ginásio do bairro São Luís desde terça-feira, 13. Os moradores da rua Berto Círio viram sua casa encher de água e precisaram sair. “Tivemos de sair de barco”, relata. Ele informa que já é a terceira vez que tem sua casa alagada e que pretende sair do local. O intervalo em uma das inundações foi de apenas três meses, segundo Nair.
Lona cara
O Procon RS e Procon Canoas, em uma ação conjunta na manhã de quinta-feira, 15, teve por objetivo proteger os consumidores do aumento abusivo na venda de lonas em lojas da cidade de Canoas. Notificações foram elaboradas pelo Procon RS e os fiscais do Procon Canoas distribuirão pelas lojas da cidade nesta quinta. Segundo relatos, estabelecimentos foram flagrados vendendo lonas com preços muito superiores ao normal do mercado. De acordo com a Diretora Executiva do Procon RS, Flávia do Canto Pereira, “o objetivo da notificação é evitar o aumento injustificado do preço das lonas, para fins de orientação do lojista. Não cabe ao Procon RS estipular preço nos produtos, mas sim evitar práticas abusivas”.