
Prefeitura de Canoas apoia projeto de maior retorno dos impostos para os municípios em ato na Praça do Avião na sexta, 25. Foto: Bruno Lara/OT
Bruno Lara
A Praça do Avião limpa, com a grama cortada e os cordões pintados. Este é o cenário que todo canoense se depara quando um ato político acontecerá no local recentemente repaginado. A barraca estava montada, interditando a rua que dá acesso a Unidade Básica de Saúde (UBS) Praça do Avião. Lá, ao meio dia, boa parte da máquina pública se reuniu na quinta-feira, 25.
Os servidores, em peso, foram às dezenas chegando – bem como secretários – para aplaudir aqueles que fariam uso da palavra no ato político em praça pública para demonstrar o apoio da cidade à proposta da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), reconhecida como “Movimento do Bolo” – nome em alusão ao que chamam de “pequena fatia do bolo tributário” -, que pretende rediscutir a distribuição do pacto federativo com os municípios. A proposta da Famurs é de que 40% do arrecadado fique com a União, mas que estados e municípios receba 30% cada.
Hoje, a maior parte das verbas são divididas entre os Estados (25%) e a União (57%). Apenas 18% dos recursos ficam nos cofres das cidades. O presidente da Federação, Luiz Carlos Folador, também prefeito de Candiota, defende mudanças fortes. “Queremos um grande movimento para buscar uma melhor distribuição dos recursos. De R$ 100 produzidos nos municípios, apenas R$18 retornam para os cofres das prefeituras. Precisamos de um novo pacto federativo”, propõe.
A mesa composta para os discursos teve um tom partidário. Da esquerda para a direita, Ary Vanazzi, presidente estadual do partido dos trabalhadores (PT). Ao seu lado, a deputada federal e esposa do secretário de educação de Canoas, Eliezer Pacheco, Maria do Rosário (PT). Imediatamente ao seu lado o nome mais falado para suceder Jairo, deputado estadual Nelsinho Metalúrgico (PT). Marco Maia (PT), deputado federal, era o mais despojado, sentado ao seu lado do companheiro de sigla Jairo Jorge (PT), atual prefeito. Também presentes a vice-prefeita Beth Colombo (PP), o deputado federal Luiz Carlos Busato (PTB) e o presidente dos conselhos de saúde do estado, Mário.
Discursos
Fazendo uso da palavra, o parlamentar canoense na Assembléia Legislativa (AL) Nelsinho Metalúrgico reconheceu o momento difícil. “Nós estamos no meio de uma crise. É preciso reconhecer. Mas ela também os permite olhar as oportunidades”, afirmou. Segundo ele, cobrar mais juros dos que tem mais dinheiro e menos dos que possuem menos poder aquisitivo é uma saída viável e justa da crise que o país vive. “O pobre é quem paga a maior fatia”, termina sendo aplaudido por Maria do Rosário.
Deputado Nelsinho Metalúrgico defende que impostos deveriam ser apenas para os ricos
Nelsinho fez discurso forte em defesa dos mais pobres e defendeu que os impostos deveriam ser para os ricos, apenas. Foto: Bruno Lara/OT
Emílio Neto
Representando a Câmara dos Vereadores, Emílio Neto afirmou que a mudança é essencial. “Uma necessidade de um novo pacto federativo. (…) É aqui, no município, que as pessoas buscam alternativas para atender suas necessidades”, afirmou o parlamentar que disse falar em nome de todo o poder Legislativo.
Emílio Neto, vereador e presidente municipal do PT, falou em nome de todos os legisladores do município em defesa do projeto. Foto: Bruno Lara/OT
Luiz Carlos Busato
Busato apresentou uma retórica mais conservadora e menos radical que a de seus antecessores. Relembrou o vídeo pedindo soluções para a segurança pública da cidade, que postou nas redes sociais informando que Canoas possuía apenas uma viatura para o policiamento ostensivo. Mesmo assim, elogiou o tenente coronel do 15º Batalhão de Polícia Militar (BPM) Oto Eduardo Amorin e o próprio prefeito. “Mesmo não tendo esses 30%, Jairo faz milagre na segurança pública”, afirmou.
Deputado Federal Busato defende que segurança pública é a maior prioridade
Marco Maia
Segundo o deputado federal Marco Maia, a realidade do país mudou de 1988 (ano da atual Constituição Federal) até hoje. Ele assumiu o compromisso de brigar pela aprovação do projeto na Câmara dos Deputados. “Nós não viemos aqui para fazer discurso, mas para assumir um compromisso. Somos deputados municipalistas. Nós temos um prefeito que não se esconde do povo”, elogiou no discurso.
Maria do Rosário
A ex-ministra e atual deputada federal Maria do Rosário ressaltou dois prefeitos que lutam pela causa. Jairo e Fernando Haddad. Para ela, o município, o estado e a federação deveriam estar em um mesmo nível. “A colaboração, para ser produtiva, pressupões um equilíbrio”, esclareceu.
Maria do Rosário (PT) acredita que é necessário um equilíbrio entre o município, o estado e a União.
Jairo criticou Dilma
O prefeito Jairo Jorge (PT), criticou a presidente da república Dilma Rousseff (PT). Foto: Bruno Lara/OT
Finalizando o ato, Jairo Jorge, que se auto declarou um dos criadores do Programa Universidade para Todos (Prouni), afirmou que a prefeitura protestou “trabalhando mais”, comparando com os municípios que aderiram ao ato de paralisar os serviços. Segundo ele, os servidores “abrirão mão do horário de almoço” para comparecerem ao evento que foi realizado até as 13h30min.
O chefe do Executivo fez duras críticas a presidente da república, Dilma Rousseff (PT), companheira de sigla. “Eu acho que hoje o Brasil tem um pouco de saudade do presidente Marco Maia”, afirmou referindo-se no período que o canoense assumiu o cargo interinamente enquanto presidente da Câmara dos Deputados.
Defendeu mudanças no pacto. “O que nós queremos agora é uma nova pactuação. Tudo aquilo que nós conquistamos em 130 anos queremos conquistar agora”, referindo-se ao tempo do império. “Nós propomos que isso seja feito em 17 ou 34 anos, mas que seja feito”, defendeu. Para amenizar o tom de crítica à Presidente, Jairo posicionou-se solidário. “É hora de solidariedade à Dilma e a Sartori. É preciso indignação para ver o que está errado, mas coragem para construir”, conclui.