Aos 72 anos de idade, Gertrudes Ires Karnopp faz uso dos remédios mais fortes para dor a venda nas farmácias do município. Há pelo menos 1 anos, se locomove apenas com a ajuda de muletas ou de uma cadeira de rodas. Não consegue mais tomar banho ou vestir as próprias meias sozinha. Ao lado do marido Osmar de Oliveira, 87 anos, também aposentado, Gertrudes recebeu a equipe de O Timoneiro para um pedido de ajuda.
Há 35 anos o casal chegou em Canoas, vindos de Santa Cruz do Sul, terra natal da costureira Gertrudes, que por 28 anos trabalhou no município, se aposentou aos 60 anos. Osmar, seu marido, trabalhava com vidro, mas após um reumatismo se obrigou a se aposentar por invalidez. “A gente quer ajuda. A gente quer resolver esse problema dela. Eu não posso fazer nada. O máximo que eu posso fazer é dar remédio”, lamenta a filha.
Em sua consulta com traumatologista do Hospital Universitário (HU), foi informada que estava na gigantesca lista de espera. “Oriento Paciente sobre a lista de espera. Paciente ciente do elevado número de pacientes na frente. Oriento o paciente sobre os riscos da cirurgia e os benefícios da prótese. Oriento prótese de quadril e retorno em seis meses se não for chamada para a cirurgia”, informa parafraseando o médico.
Há pelo menos um ano aguarda a cirurgia de prótese, recomendada pelo médico. É o único jeito de voltar a caminhar, informa o doutor. Ela sofre com coxartrose bilateral. Artrose é o termo genérico para o processo degenerativo das cartilagens. Coxartrose, por sua vez, é o nome dado quando este processo ocorre no quadril. ]
Muito além da coxartrose
Segundo a filha do casal, o problema vai além da coxartrose. “Um lado que ela não consegue firmar a pena. Ela tem problemas na coluna e isso pode afetar”, afirma a filha que prefere não ser identificada. Para ela, a dificuldade é na agenda da equipe de médicos. “A demora para a marcação de consulta com a ULBRA é bem complicada. É pelo 0800. Toda vez que tu liga, para marcar uma equipe que nem a do quadril, eles dizem que não abriu a agenda. É só a resposta que tu tem: A agenda não abriu. Alguém tem que fazer alguma coisa por ela”, conclui.
Gertrudes não quer mais passar trabalho. É muita dor. Muita dor para caminhar. Passo o maior trabalho e para levantar, tenho que esperar, esperar. É horrível. Aí o médico me disse: Para fazer a sua cirurgia só no ano que vem, em março. “Agora tenho que esperar até março, pois tinha muita gente na minha frente”, relata. Além da coxartrose, sofre também com a tireóide, a coluna, diabetes, pressão alta e o coração. A cirurgia da tireóide, que já trata há pelo menos cinco anos, está liberada pela secretaria municipal de saúde, mas o hospital, em função da demanda e do pouco espaço, terá que continuar esperando.
O último exame realizado na tireóide apontou massa no local. “A resposta do médico foi que está na fila de espera. Fez fisioterapia, o que não adiantou com a dor e só piorava com a função do deslocamento”, pontua a filha.
Jovem ainda não fez cirurgia
Na edição anterior de OT, trouxemos à luz da sociedade o caso de uma menina de 14 que sofre de escoliose. Desde os 10 anos de idade a menina reclamava de dor nas costas, mas ainda não conseguiu marcar cirurgia. A denúncia foi feita por Adriana Cardoso, moradora do bairro Guajuviras. A Prefeitura Municipal de Canoas informou que uma consulta foi agendada para a última quinta, 30.
A equipe de reportagem de O Timoneiro procurou Adriana após a consulta. Ela informou que o médico que lhe atendeu no Hospital Universitário solicitou mais exames e não marcou a cirurgia. Um dos exames é um hemograma que, segundo informou a equipe do hospital, só poderia ser realizado no mês de outubro. A mão informou também que as cirurgias de escoliose, que antes eram realizadas com uma periodicidade mensal, agora precisam de dois meses para realizar cirurgias. O motivo, segundo o médico, é a falta de estrutura.
O que diz a Prefeitura
Segundo a administração municipal, o Hospital Universitário possui seis salas de cirurgia. Informou também que o tempo de espera para cirurgias é variável, dependendo da necessidade clínica de cada especialidade e de cada paciente. “Em saúde, o que prevalece é o risco clínico e não a cronologia”. Também afirmou que não há um padrão na consulta com especialistas.
Sobre a cirurgia de escoliose, salientou que cada cirurgia tem sua especificidade e grau de gravidade e de necessidade distinta de outra. E que não há um tempo médio de espera, mas que o município realiza uma cirurgia ao mês. “É importante ressaltar que só 2 hospitais do Estado realizam este procedimento, sendo 1 deles o HU, por ser uma cirurgia extremamente complexa, que exige alta qualificação técnica da equipe e tecnológica dos equipamentos e ainda placas e próteses específicas, levando em torno de 8 a 10 horas cada cirurgia, é que se faz em média 1 cirurgia ao mês”, conclui.