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Mathias Velho novamente foi o bairro mais atingido pelas águas

Ninguém quer assumir a culpa nem apontar os problemas, e alagamentos cada vez maiores vão prejudicando população

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Av. Rio Grande do Sul. Foto: Bruno Lara/OT

Av. Rio Grande do Sul. Foto: Bruno Lara/OT

Por Bruno Lara

Na segunda-feira, 13 de julho de 2015, o Estado do Rio Grande do Sul foi atingido por fortes chuvas que inundaram casas e até bairros inteiros deixando cerca de 5.000 pessoas desalojadas ou desabrigadas. Em Canoas, o maior estrago foi nos bairros Mathias Velho, Rio Branco, Estância Velha, São Luís e Cinco Colônias, ocasionados pelas chuvas que permaneceram por toda a semana. A Prefeitura atribui o problema aos próprios moradores pelo descarte errado de seu lixo.

As cidades de Canoas, Porto Alegre, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Esteio, São Leopoldo, São Sebastião do Caí, Taquara, Igrejinha, Passo Fundo, Coxilha, Santa Maria, Santo Ângelo, Imbé, Torres, Frederico Westphalen, Caxias do Sul, Vacaria, Bom Jesus, Canela, Lajeado, Estrela, Montenegro, Poço das Antas, Rio Pardo e Guaíba foram atingidas pelas fortes chuvas de segunda e terça-feira, segundo o governo do estado.

A noite chuvosa de domingo, 12, já preocupava os moradores do bairro Mathias Velho, historicamente o mais prejudicado em dias de temporal. O governo municipal foi avisado com uma semana de antecedência, mas a ajuda e a limpeza nos canos só foram realizadas após os moradores acordarem com a água sob os seus pés.

Fotos chegaram à redação de OT e ganharam as redes sociais informando os pontos de transtorno e alagamentos. A Escola Municipal Arthur Pereira de Vargas, no bairro Cinco Colônias, chegou a ficar sitiada. Na rua Piratini, no Mathias, assim como na Araçá e na avenida Farroupilha, a água chegava a altura da porta dos carros. Fora os inúmeros relatos de pátios inundados. Nova Santa Rita também não ficou de fora. Leitores enviaram fotos da rua Limoeiros completamente alagada.

Na internet, foi possível observar pessoas culpando a omissão da atual administração municipal como principal motivo do ocorrido. Por não efetuarem o trabalho de prevenção e se omitindo da culpa depois do ocorrido. Também é possível, no entanto, ler comentários positivos da gestão petista e que culpam, majoritariamente, aqueles que despejam seu lixo inconsequentemente nas ruas do município.

De quem é a culpa?
Para a professora e bióloga Sabrina Borges Portela, há sete anos lecionando no Colégio Estadual Tereza Francescutti, no bairro Mathias Velho, embora a contrapartida do governo para com os impostos recebidos seja muito baixa, os grandes culpados são aqueles que jogam lixo nas ruas e a natureza só está cobrando agora seu preço. “Em alguns bairros o que vemos são sofá na rua, geladeira velha, sacos de lixo abertos, entulho pelas calçadas, animais mortos, pneus, fogões e tudo que não serve mais. Uma montoeira de coisas que vão ser levada pela primeira enxurrada, indo parar nos principais rios e arroios da cidade” afirma em seu artigo “Enchentes de quem é a culpa”.

Outro lado, também segundo Portela, é a priorização do cimento nas vias e residências, fator que contribui para desastres ambientais. “Outra causa a ser considerada é, sem dúvida, a impermeabilização do solo, com pavimentação das ruas e a cimentação de quintais e calçadas, a maior parte da água, que deveria infiltrar no solo, escorre na superfície, provocando o aumento das enxurradas e a elevação dos rios. Além disso, a impermeabilização contribui para a elevação da velocidade desse escoamento, provocando erosões e causando outros tipos de desastres ambientais urbanos”, conclui.

Em desacordo com o que afirma a bióloga, muitos moradores reclamaram para a reportagem de OT presente nos bairros que o fato não ocorria em alguns pontos antes da construção da BR-448 e da Vala da Curitiba. Além do mais, não entendem o motivo de a Prefeitura retirar o lixo somente quando a cidade já está embaixo d’água. “Não há prevenção”, reclamam. Os moradores, que preferem não se identificar com medo de represálias, questionam: Se já tinham conhecimento da possibilidade de fortes chuvas, por qual motivo as valas ainda não foram limpas anteriormente?

Desde muito tempo
A década de 1960, já com um grande acúmulo de população irregularmente instalada, chegou com grandes estragos ambientais. Logo em 1963 ocorreu a chamada “Grande Enchente”, que atingiu os bairros Niterói, Mathias Velho, Fátima e Rio Branco, considerados os mais baixos. Embora tenha chovido mais que o esperado para todo o mês, somente o grande volume de água não explica o acúmulo e a demora no escoamento.

Os diques ainda não haviam sido construídos e a água chegou em função da cheia do Rio dos Sinos. Cinquenta anos após o ocorrido, em 2013, OT retratava novamente a cena, embora com um novo motivo: o não escoamento das águas da chuva em direção ao rio que causaram os alagamentos. Uma inversão da causa. Em 2013, reclamações chegaram à redação acusando a Prefeitura de não ligarem as bombas, denúncias que até hoje são frequentes. A administração já culpava o acumulo de lixo nas valas e bueiros, desculpa ainda mais frequente.

Segundo o Jornal Livre, “No dia 7 de Novembro de 2005 o município ficou “inundado” pela água, vários bairros tiveram suas ruas alagadas. O motivo do alagamento foi a concentração anormal de chuva no dia e o entupimento de bueiros”.

Matérias de O Timoneiro, em 2011, dão conta de que o bairro alagou três vezes até o mês de julho de 2011, mesmo que novos equipamentos tenham sido adquiridos para a função no ano anterior. “28 de dezembro de 2010 novos equipamentos foram inaugurados nas casas de bombas pelo Prefeito e o período de alagamentos relatados pelos morados veio após esta mudança”, diz o texto.

O problema, no entanto, persiste há 52 anos sem solução e a justificativa é de que a culpa não é dos gestores, mas da população. Desde 1963 o bairro inunda, pessoas perdem boa parte do que conquistaram durante a vida, quando não é a própria vida que perdem.

Esquina da Av. Rio Grande do Sul com a rua São Paulo Foto: Bruno Lara/OT.

Esquina da Av. Rio Grande do Sul com a rua São Paulo Foto: Bruno Lara/OT.

Mathias Velho tem oito habitantes por metro quadrado
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados da última atualização realizada em 2010, o bairro possui cerca de 48 mil habitantes, nos quais, aproximadamente, 25 mil são mulheres e 23 mil são homens. A grande maioria, cerca de 23 mil, são moradores adultos, de 25 a 59 anos, embora também seja o que mais possui crianças, 12 mil ao todo.

Os dados acima servem para observar a habitação irregular que condena a extensão em dias chuvosos. São 48 mil residentes para uma área de 6,01 Km², o que chega a média de 8 habitantes por metro quadrado. O segundo mais habitado da cidade, Guajuviras, com aproximadamente 39,5 mil habitantes, possui área de 9,67 Km², apresentando a média de 4 habitantes por metro quadrado. A metade do Mathias Velho.

Entenda as enchentes
A enchente é um fenômeno comum da natureza, mas que pode ser intensificado pela ação do ser humano. Elas aumentam de frequência e magnitude devido a ocupação do solo com superfícies impermeáveis e rede de condutos de escoamentos. O desenvolvimento urbano pode também produzir obstruções ao escoamento como aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções ao escoamento junto a condutos e assoreamentos. Os instrumentos legais para evitar as causas das cheias urbanas são, normalmente, o Plano Diretor Municipal e o Código Florestal.

Quando uma cidade é inundada, diversos prejuízos são observados. Alguns deles irreversíveis. Podem ocorrer perdas materiais e humanas, suspensão de atividades econômicas em áreas inundadas, a contaminação por doenças de veiculação hídrica como, por exemplo, leptospirose, cisticercose, cólera, disenteria, febre tifoide, filariose, giardíase, leishmaniose, peste bubônica, salmonelose, toxoplasmose, tracoma, triquinose e cólera. Ainda há a contaminação da água por material tóxico, estações de tratamentos, entre outros sérios danos.

Casa alagada no Mathias Velho. Foto: Bruno Lara/OT

Casa alagada no Mathias Velho. Foto: Bruno Lara/OT

Diferente de uma enchente – quando chove muito em pouco tempo –, a enxurrada é quando a água carrega o lixo reduzindo a drenagem ou, às vezes, até obstruindo os canos da cidade. A cobertura do solo, no entanto, é o fato essencial neste caso. No artigo “Mapa mental dos problemas das enchentes urbanas” da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), é destacado que o tipo de cobertura do solo influencia diretamente a vazão. “Várias são as causas das enchentes urbanas mas, entre as principais, relacionamos as chuvas, o tipo de piso, lixo nos bueiros, erros de projeto (drenagem insuficiente) e a ocupação irregular do solo”, diz o texto. Quer dizer que, se houvesse mais terra, grama e árvores ao invés de concreto e asfalto, o solo absorveria parte do volume hídrico e auxiliaria, em muito, na drenagem das grandes chuvas.

A culpa é do Estado?
Em reunião com prefeito de Esteio, Gilmar Rinadi (PT), Jairo lembrou que em 2013 firmaram um acordo para os estudos de enfrentamento ao problema, oriundo dos Arroios Sapucaia e Guajuviras. Segundo a assessoria da Prefeitura, “No encontro, ficou acertado o pedido de audiência com o governador José Ivo Sartori, uma vez que o projeto, na ordem de R$136 milhões, foi feito em parceria com a Metroplan”.

Prefeitura promete (novamente) solução
Segundo o Prefeito, “a casa de bombas oito, que está em construção no Mathias Velho, deve solucionar os problemas de alagamentos no bairro”. O secretario Municipal de Obras, Dario da Silveira (PDT), informou que o volume de água foi expressivo. “Apenas nessas três bombas que compõem a Casa de Bombas 7, são 2.500 litros por segundo, o que equivale a 27 de milhões de litros por hora”. Segundo o Executivo, em 36 horas de chuvas, “foram retirados 224 metros cúbicos de lixos das valas, o que equivale a 16 caminhões de 14 metros cúbicos. Esse material é composto por lixo doméstico, pneus, sacos de lixo, madeiras, móveis”.

A administração informou que os investimentos em obras de prevenção a enchentes da Prefeitura de Canoas, nos últimos seis anos, chegam a R$ 150 milhões. Esses investimentos incluem redes de contenção, galerias, redes de drenagem. E que a Casa de Bombas iniciada em 2014 é outra obra estrutural para uma solução aos problemas de alagamentos na cidade.

Mais uma vez, soluções foram prometidas como os 62 hectares de áreas de utilidade pública para a criação das bacias de contenção de água do arroio Guajuviras; um estudo que trabalha com a perspectiva de transformar a BR-448 em um dique projetado onde não existe ainda um sistema de proteção, incluindo valas, drenagens e casa de bombas; bacias de reservação, a ampliação de canais de macrodrenagens do Arroio Guajuviras, revestimento e ampliação de canais dentro da Refap, além de projetos executivos para os próximos 50 anos.

Canoa no Paquetá. Foto: Divulgação Defesa Civil.

Canoa no Paquetá. Foto: Divulgação Defesa Civil.

Em entrevista, o secretário especial de Defesa Civil, Rodolfo Pacheco, informou que a Praia do Paquetá é uma localidade que não é atingida por cheias em função da quantidade de chuva. É o ponto onde os rios Jacuí e dos Sinos se encontram. “Em 24 horas, das 8 horas de ontem (quarta-feira) até as 8 horas de hoje (quinta-feira), o rio dos Sinos subiu 25 centímetros”, informa como causa das cheias.

Segundo Rodolfo, a praia melhorou em dois aspectos. O primeiro deles é a construção da BR-448 e o assentamento do asfalto que chegou próximo a curva de entrada. “Então as pessoas, que antes precisavam andar um ou dois quilômetros de barco, hoje pegam um ônibus”, afirma. A segundo é a medida adotada pela Prefeitura de aterrar as estradas de chão batido. No Mathias, o secretário especial informou que somente duas pessoas solicitaram auxílio da Defesa Civil para sair de casa em razão das cheias, mas que o órgão segue distribuindo roupas as centenas para dezenas de canoenses.

Governador pede voluntariado
Em nota oficial, o governo do estado informou que doze equipes da defesa civil auxiliaram os municípios e que “Alertas de granizo, vendavais e chuvas foram recebidos e emitidos desde a semana passada a todas as coordenadorias regionais para preparar as comunidades sobre os possíveis eventos”. Segundo a nota, foram mais de 20 cidades afetadas no Rio Grande do Sul, entre os quais os da Região Metropolitana, que é a com situação mais crítica, contou com aproximadamente 500 pessoas desalojadas e desabrigadas em casas de familiares e abrigos provisórios. Número que aumentou para 5.000 durante a semana.
O Governador informou que 2 mil peças de agasalhos e 400 litros de leite foram entregues, na manhã de quarta-feira, 15, em Esteio. “O Rio Grande do Sul precisa mostrar unidade, a força do voluntariado. Maior que a chuva é o espírito solidário dos gaúchos, que se fortalece na cumplicidade”, afirmou o governador José Ivo Sartori (PMDB).
Em agenda na capital Brasília, na terça-feira, 13, Sartori e o secretário da Agricultura e Pecuária, Ernani Polo, receberam a informação do empenho de R$ 26 milhões por parte do governo federal, através do Ministério da Integração, para dar continuidade as obras das barragens de Jaquari e Taquarembó, além da elaboração do projeto da barragem São Sepé, todas na Metade Sul.
Segundo nota emitida pelo Palácio Piratini, as obras já estão em andamento. “A barragem do Taquarembó fica em Dom Pedrito, na Região da Campanha, e está em estágio mais avançado, com cerca de 80% das obras concluídas. Após a concluída, o volume de água acumulado poderá irrigar 16 mil hectares, com um potencial futuro de 38 mil hectares irrigados. A de Jaguari, em construção no município de São Gabriel, na Fronteira Oeste, também deve ter as atividades retomadas. A São Sepé, que será no município homônimo, deve ter seu projeto desenvolvido com parte do recurso apontado pelo ministro”.

"Minha casa não aguenta mais. Ta morrendo afogada", reclama moradore da rua Fernando de Noronha no bairro Mathias Velho.

“Minha casa não aguenta mais. Ta morrendo afogada”, reclama moradore da rua Fernando de Noronha no bairro Mathias Velho.

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Sorteio do Minha Casa, Minha Vida contempla 250 famílias. Confira lista.

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Foto: Jhennifer Wolleng

Com transmissão ao vivo pela internet, a Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação, realizou nesta quarta-feira (16) o sorteio do programa Minha Casa, Minha Vida. No auditório Sady Schivitz, na sede da Prefeitura, foram contempladas 250 famílias, que irão morar nos Residenciais Pistoia e Santa Fé, no bairro Rio Branco. Também foram sorteados os candidatos suplentes.

Os dois complexos habitacionais estão em fase de construção, com previsão de entrega dos imóveis para setembro deste ano. Antes de ocupar o imóvel em definitivo, os contemplados passarão pelo processo de análise documental na Caixa Econômica Federal e pelo trabalho técnico-social da Prefeitura, que promove um processo de adaptação das famílias à nova moradia.

Confira aqui a lista dos sorteados

Ao todo, os Residenciais Pistoia e Santa Fé oferecem 500 unidades habitacionais. A outra metade das famílias que irá morar no local será reassentada, já que ocupavam anteriormente invasões que foram alvo de reintegração de posse pelo município.

Nesta quarta-feira, participaram do sorteio os cidadãos que realizaram o recadastramento. Enquadram-se nos critérios nacionais famílias residentes em áreas de risco, insalubres ou que tenham sido desabrigadas, comprovado por declaração do ente público; famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar, comprovado por autodeclaração; e famílias das quais faça(m) parte pessoa(s) com deficiência, comprovado com a apresentação de atestado médico.

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Assembleia de Deus comemora 80 anos de fundação em Canoas

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A igreja Assembleia de Deus, de Canoas, comemora uma marco importante na cidade. O Jubileu de Carvalho da entidade ocorre nesta sexta-feira, 18 de agosto, e terá programação intensa de comemorações. O pastor Edegar Machado, líder da igreja no município há mais de 30 anos, recebeu a reportagem de O Timoneiro para falar acerca da programação das celebrações e sobre a atuação na cidade.

Tamanho

A importância da Assembleia de Deus, de Canoas, é contada também em números. A instituição, de acordo com Edegar, abrange atualmente 16 mil membros e conta com 88 igrejas na cidade. “A igreja se expandiu através do trabalho missionário e atua em diversos ponto do mundo”, conta Edegar.

Visão Social

O pastor destaca a visão social da instituição: “Não temos somente o trabalho espiritual, mas cuidamos do lado social. Eu considero isso como a outra mão da igreja. Nós temos o lado humano, que é alcançar as pessoas em suas necessidades”, comenta. O trabalho realizado abrange especialmente o cuidado de crianças. Edegar ainda citou projetos como escolas artesanais, que ajudam no desenvolvimento de trabalhos comunitários, além de postos de distribuição de sopa vinculados à Associação Beneficente Lar Esperança de Canoas , onde são atendidas cerca de mil crianças por semana.

Programação

A igreja promove cultos de celebração na sexta-feira, 19, até domingo, 20, no templo central da Assembleia de Deus, no bairro Mathias Velho. No domingo, a partir das 9 horas, ocorre concentração na praça Antonio Beló, na Rua Dr. Barcelos, onde será inaugurado um monumento em homenagem aos 80 anos da igreja. Após, são esperadas quatro mil pessoas para uma caminhada até o templo central da instituição, onde ocorrerá culto de graças.

História

Por determinação do pastorado da Igreja em Porto Alegre, o evangelista Amaro dos Santos foi designado, em 1937, para cuidar do trabalho da instituição em Canoas. Os primeiros cultos ocorreram no bairro Niterói. Ficou marcado na história da igreja um grande culto, realizado junto a uma figueira localizada nas proximidades da casa de André Lemos, em 18 de agosto de 1937. O local permanece com a figueira até hoje e, por conta disso, foi escolhido como local para a homenagem aos 80 anos da instituição.

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Canoense tem 94 anos de futebol, mídia, direção e simplicidade

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Marcelo Grisa

Hélio Ferreira da Silva nasceu em 1º de outubro de 1923. Filho de empregados na fazenda do estancieiro Victor Barreto, o motorista aposentado viu a história do século XX como poucos canoenses puderam. Hélio hoje mora com os sobrinhos Júlio Ragazzon e Raquel Araújo. E esta é sua história.

O futebol e a guerra

No começo de 1932, Hélio observava o nascimento do Sport Club Oriente, um dos mais tradicionais de Canoas. Alguns anos depois, jogou no time e virou craque. Como atacante central, marcava muitos gols.

A incipiente trajetória de Hélio Ferreira no futebol incluiu passagens pelo Canoense e até mesmo no Grêmio. Entretanto, uma grave lesão o afastou em definitivo dos gramados. Uma “pisada” deixou como lembrança um esmagamento logo acima do joelho. “Eu até poderia jogar, mas nunca mais fui. Deu muito medo”, explica.
“Às vezes eu ainda sonho com as mulheres da arquibancada me chamando. Parece que me vejo jogando de novo”, admite. Mas a vida ainda tinha reservado muito mais para o canoense de fala fácil e sorriso alegre.

Nesta época, o canoense já estava na Aeronáutica. Começava a Segunda Guerra Mundial, e todos no quartel ficavam de prontidão, recebendo apenas um dia de folga por semana. “Eu ficava em casa de farda. Se a sirene tocasse, tínhamos meia hora para nos apresentar”, lembra.

Hélio Ferreira da Silva, entretanto, nunca veria os fronts da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Há poucos dias de ser embarcado para o campo de batalha, chegava o mês setembro de 1945. A guerra acaba.

Hélio “Caldas” e Ernesto Geisel

Mesmo antes, durante e depois da guerra, a vivência nas Forças Armadas proporcionou o que seria uma de suas maiores paixões: os carros. Depois de sete anos, saiu da Aeronáutica e tornou-se motorista particular. Acabou por trabalhar 40 anos de sua vida para a Companhia Jornalística Caldas Júnior, dona do jornal Correio do Povo, como motorista da família de Breno Caldas. Por muito tempo, sua família morou na propriedade da família Caldas no bairro Belém Novo, em Porto Alegre.

Recentemente, Hélio visitou os netos de Breno, que o chamaram de “Hélio Caldas”, tamanha fora sua contribuição para a família.
Mas as mais histórias das quais Hélio mais se lembra são aquelas que envolviam os governos da ditadura militar. Primeiro, quando o golpe era dado, em 1º de abril de 1964, Breno Caldas pediu ao motorista que buscasse suas filhas na Rua Coronel Bordini, no bairro Auxiliadora, e as trouxesse ao Belém Novo. Recebeu uma arma, e deveria impedir, depois de todos em casa, que qualquer um entrasse na propriedade. Tendo que lidar com militares às portas do terreno, Hélio deixou-os entrar, mas cuidou cada movimento deles. Depois de uma medição no terreno – o que acontecia no local com frequência – eles foram embora sem maiores percalços.

Em outra oportunidade, em razão do aniversário de Breno Caldas, o presidente Ernesto Geisel, também gaúcho, veio até a fazenda para parabenizá-lo. Hélio teve que esconder um papagaio, que era ilegal, da vista do mandatário. Como um dos genros do patrão acabou por entregar a existência da ave, Geisel exigiu vê-la.
O que se sucedeu, entretanto, tranquilizou a todos. Ao ver o papagaio, que havia sido ensinado a falar muitos palavrões, o presidente desatou-se a rir mesmo sendo xingado pelo bicho.

Cuidado com o caminhão

Ao aposentar-se, Breno Caldas queria que Hélio continuasse trabalhando para ele, mesmo que não mais tendo carteira assinada por sua companhia. Não era bem sua ideia: eram os anos finais da Caldas Júnior antes de sua venda, e o motorista tinha o sonho de ter um caminhão e trabalhar com entregas.

Acabou recebendo a chave de um veículo à sua escolha entre 18 que estavam na garagem da propriedade, escondidos dos credores. “Breno puxou um bolo de chaves do bolso e disse: ‘Escolhe uma. Pode pegar.’ Mais tarde fui lá e escolhi um caminhão.”

Graças à rápida passagem da titularidade dos documentos, Hélio pode ficar com o veículo até poucos anos atrás, quando parou de dirigir. “Não quero me gabar, mas nunca causei nenhum acidente. Com a idade, preferi pedir para o Júlio aqui me levar nos lugares. Não é agora que eu vou ter um solavanco e acabar machucando alguém”, preocupa-se.

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