por Bruno Lara
– Por várias vezes o jornal O Timoneiro questionou a ação do Tribunal de Contas do Estado (TCE) em relação aos governos Ronchetti, justamente quando o agora investigado João Luiz Vargas ocupava cargo de conselheiro.
A edição de 12 de março de 2004 traz matéria exclusiva sobre a ligação entre o ex-conselheiro do TCE João Luiz Vargas e Chico Fraga e Ronchetti, só agora veiculada pela imprensa estadual. Dizia a matéria: “A direção do jornal O Timoneiro recebeu, via postal, um CD com gravações de conversas do telefone de Francisco Fraga, secretário municipal. Numa das conversas gravadas, o senhor José Fernandes, do grupo de Santa Maria contratado pela Prefeitura, vislumbra-se com a intimidade do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), João Luis Vargas, com processo do caso Iteai – O Escândalo dos Computadores”.
A matéria, de 11 anos atrás, conta, ainda, que o então prefeito, Marcos Ronchetti, entrou com mandato de segurança no Tribunal de Justiça do Estado para tentar evitar que o TCE julgasse o relatório de contas da Prefeitura de 2001. “O TJ negou a liminar, mas no dia seguinte, durante a sessão que se daria a votação, o conselheiro João Luis Vargas pediu vistas no processo impedindo a votação e retardando-a por quatro meses”.
Outras ligações suspeitas
Em 2009, OT noticiou que o Ministério Público Federal investigava a ligação entre Chico Fraga, Marcos Ronchetti, Marco Alba e o atual ministro de aviação civil, o então deputado federal Eliseu Padilha. Em 2008, reportagem de OT, feita pelo jornalista Vanderlei Dutra, embasou parte dos trabalhos da CPI do Detran que investigou fraude na autarquia estadual. A matéria informou sobre visitas e reuniões destes mesmos políticos na mansão de Chico Fraga em Tramandaí, no Marina Park Residence – que também teve seu administrador denunciado no mesmo inquérito, além de corretores de imóveis de Tramandaí e Imbé e empresário e pessoas ligadas às empresas Magna Engenharia, MAC Engenharia e Equipe Cooperativa, prestadoras de serviço na administração canoense.
Imóveis e carros que totalizariam cerca de R$ 10 milhões em nome de Fraga, parentes e laranjas foram bloqueados pela Justiça a pedido do MPF como sendo do ex-secretário canoense. Entre estes bens, estão diversos automóveis, casas, terrenos, propriedades rurais, as propriedades no condomínio de luxo no Litoral, além da cobertura luxuosa onde Fraga e a família moraram durante o ano de 2007, em Porto Alegre.
A Operação Solidária nasceu em 2006, quando os procuradores federais investigavam a fraude na merenda escolar – denunciada por OT antes ainda de sair a licitação. Durante este processo, começaram a ser monitorados os passos e ligações de Fraga e seus tentáculos criminosos foram levando os policiais federais às pegadas de autoridades e empresários ligados à este grande sistema fraudulento que se originou na Prefeitura de Canoas, de onde devem ter sido desviados mais de R$ 300 milhões. Além da merenda escolar, obras de saneamento (fechamento das valas da Curitiba e do Leão), a construção do Hospital de Pronto Socorro e a contratação de profissionais da saúde (para HPS e Programa de Saúde da Família), são outros projetos em que a quadrilha lesou o erário canoense.
Vida de ostentação
Em Porto Alegre, uma cobertura na rua Quintino Bocaiúva serviu de moradia da família Fraga durante o longínquo ano de 2007, até que as primeiras denúncias em nível estadual, no caso Detran, eclodiram. Segundo a PF, Fraga teria recebido esta cobertura de uma empresa como pagamento por benefícios obtidos em contratos públicos.
OT conversou com uma frequentadora da residência nesta época, que não quis ser identificada. Ela contou que o período foi marcado por extravagâncias da família. Os membros tinham camionetes e os genros de Fraga ganhavam automóveis novos do sogro. “Uma verdadeira frota”, conta.
A casa tinha cerca de 10 aparelhos de ar condicionado do tipo ‘split’ e outro número semelhante de tevelisores de plasma, com telas de cinema, fato anormal para a época. Um grande time de empregados servia a família. Foi neste período, também, que o casal Fraga se divertiu em cruzeiros marítimos, inclusive o do rei Roberto Carlos.
CPI do Detran
Durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Detran, o deputado Elvino Bohn Glass (PT) exibiu as matérias publicadas pelo jornal O Timoneiro sobre o enriquecimento rápido e assombroso de Chico Fraga. O mesmo alegou que se limitaria a responder questões relativas ao Detran. O deputado petista então mostrou fotos de sua propriedade: duas mansões em Tramandaí (valor estimado de R$ 1,3 milhão cada uma); seis terrenos (valor estimado de R$ 200 mil cada um); e mais seis sítios na RS 130, que estariam reservados para a construção de um posto de gasolina.