Bruno Lara
Nada acontecida no Brasil até a chegada da família real em 1808. Desde a descoberta pelos portugueses, em 1500, estas terras serviam, principalmente, para retirada de matéria-prima e exclusão dos que não se queria na Europa. Com a chegada da família real portuguesa no cais de Belém em 29 de novembro de 1807, as coisas começam a mudar.
Um gaúcho, pioneiro como os demais, chamado Hipólito José da Costa, nascido em 1774 e falecido em 1823, resolveu quebrar a lógica de divulgação do veículo Gazeta do Rio de Janeiro, institucional do Império que seria para divulgar suas ações. A gazeta surgiu em 10 de setembro de 1808, basicamente com comunicados do governo.
Contrariando esta lógica, mesmo com um governo nada democrático, Hipólito José da Costa, surgiu para contrariar as informações da corte e mostrar aos brasileiros as revoluções que aconteciam mundo afora como, por exemplo, o renascentismo, que serviu de base para a revolução vislumbrada por Tiradentes, sem sucesso. Por divulgar estas ideias e viver em um império, o editor do jornal morava na Inglaterra e enviava os exemplares por navio.
Os veículos de Meirelles
O precursor da imprensa Canoense foi Nemézio Miranda de Meirelles, Baiano para os íntimos. Natural de Salvador, Bahia, nasceu em dezembro de 1913. Embora dentista de profissão, Nemézio foi o fundador do primeiro e do segundo veículos de imprensa de Canoas: O Cruzeiro e O Canoense, respectivamente.
Maria Helena Carneiro, licenciada em química, foi vizinha de Nemésio. “Eu era vizinha dele”, lembra. “A minha amizade com a Filomena, esposa dele, é desde 1967, quando ela começou a Santa Isabel. Convivi com ela na criação da Santa Isabel, do Asilo São José. Era um grupo de mulheres. Eles moravam na Guilherme Schell, um terrenão (sic) grande, eles moravam. Na casa do lado era o consultório dele. Ele, que era dentista, fundou O Cruzeiro mesmo sendo dentista” salienta.
No livro “O Cruzeiro e O Canoense os principais jornais de Canoas”, do historiador Antonio Jesus Pfeil, lembra que “os únicos jornais que circulavam por aqui eram o “Correio do Povo”, mais conhecido como “o róseio”, e “A Federação”, que era vinculado ao Partido Republicano. Posteriarmente, em fins da década de vinte, também o “Diário de Notícias”. Todos de Porto Alegre”, fazendo referência, também, ao costume de Fritz Ludwig, no tranco da Maria-fumaça, de ler O Canoeiro, veículo manuscrito, produzido por ele mesmo, que registrava histórias de amigos, aniversários e demais assuntos locais.
“Ele era um homem de uma comunicação muito linda. Ele se interessava por tudo, se tu conversasse com ele sobre determinado assunto ele ia ver. Chegava lá, precisava de algo, acionava os empresários e ajudava. Ele formou uma liderança de ajudar o outro. Ele e a Filomena eram mestres da filantropia. E assim foi”, termina Maria Helena.
Segundo Pfeil, no dia 10 de agosto de 1935, circulava em Canoas, com 200 exemplares por semana, o literário, social e humorístico O Cruzeiro. “A finalidade de despertas nos habitantes, não só o amor Às letras, mas também difundir ideias de notícias e o desejo do progresso e emancipação”, costumava defender Nemézio Meirelles.
Em 5 de setembro, após retornar de Santa Maria, Meirelles lança um novo jornal com instalações fixas na av. Guilherme Schell, 838: O Canoense. Este possuía caráter mais progressista, visando a emancipação de Canoas do município de Gravataí, de onde era 4º distrito. Circulava com quatro páginas nas praças todo o domingo. “Doravante terá Canoas um novo órgão. Seu fim é sadio e nobre: infelizmente, porém, bem sei, custará um pouco tal causa a ser compreendida. Praza aos céus que não tenha ele o mesmo fim de “O Farrapo”, como espero confiante”, dizia o trecho do primeiro editorial d’O Canoense.